sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Geraldo Vandré

Geraldo Vandré (Geraldo Pedrosa de Araújo Dias) nasceu em João Pessoa-PB em 12 de Setembro de 1935. Apresentou-se num programa de calouros na Rádio Tabajara de João Pessoa quando tinha 14 anos. Em Nazaré da Mata, onde cursava o ginásio em internato, participou de alguns shows organizados para as missões.

Foi para o Rio de Janeiro em 1951, e nesse mesmo ano se apresentou no programa de calouros de César da Alencar, no qual foi desclassificado. Aproximou-se então de Ed Lincoln, que nessa época tocava com Luís Eça, na boate do Hotel Plaza, tentando cantar nos intervalos das apresentações.
Em 1955, com o pseudônimo de Carlos Dias, defendeu a canção Menina (Carlos Lyra) num concurso musical promovido pela TV-Rio. Mais tarde, o encontro com o folclorista Waldemar Henrique abriu-lhe a oportunidade de se apresentar no programa da Rádio Roquete Pinto, usando o nome Vandré, que resultou da abreviatura do nome do pai, José Vandregísilo.
Cursou a Faculdade de Direito, do Rio de Janeiro, época em que participou do Centro Popular de Cultura, da extinta União Nacional dos Estudantes, onde conheceu seu primeiro parceiro, Carlos Lyra. Passou então a interessar-se mais pela composição, abandonando a idéia de tornar-se cantor.
Fez a letra da música de Carlos Lyra Quem quiser encontrar o amor, gravada por ele em abril de 1961 em 78 rpm, na RGE, e em 1962 por Carlos Lyra no LP O sambalanço de Carlos Lyra, pela Philips. Esta música seria incluída no episódio "Couro de gato" do filme Cinco vezes favela, trabalho produzido pelo Centro Popular de Cultura.
Em 1962 apresentou-se no Juão Sebastião Bar, em São Paulo SP, iniciando trabalhos com Luís Roberto, Baden Powell e Vera Brasil. Nesse mesmo ano gravou com Ana Lúcia o Samba em prelúdio (Baden Powell e Vinícius de Moraes), pela Áudio Fidelity, com grande sucesso, e compôs com Carlos Lyra o samba Aruanda.
Em dezembro de 1964, gravou na Áudio Fidelity seu primeiro LP, apresentando a toada Fica mal com Deus, além de Menino das laranjas (Téo de Barros). Em 1965 defendeu Sonho de um carnaval (Chico Buarque) no I FMPB, da TV Excelsior de São Paulo. No mesmo festival, inscrevera sua composição Hora de lutar, que não se classificou. Essa música foi gravada, no mesmo ano, num LP homônimo. Nesse período, musicou o filme de Roberto Santos A hora e a vez de Augusto Matraga.
No ano seguinte lançou pela Som Maior o LP Cinco anos de canção, que incluía Pequeno concerto que virou canção, Canção nordestina e Rosa flor (com Baden Powell). Venceu em São Paulo o FNMP, da TV Excelsior, com a música Porta-estandarte (com Fernando Lona), defendida por Tuca e Airto Moreira, assinando depois contrato com a Rhodia para excursionar pelo Nordeste com o Trio Novo, formado por Téo (violão), Airto Moreira (viola caipira) e Heraldo (percussão).
Nesse mesmo ano de 1966 venceu ainda o II FMPB, da TV Record, de São Paulo, com Disparada (com Téo de Barros), na interpretação de Jair Rodrigues, do Trio Novo e do Trio Maraiá, empatando com A banda (Chico Buarque). Obteve ainda o segundo lugar no I FIC, da TV-Rio, do Rio de Janeiro, com O cavaleiro, parceria com Tuca, que também foi intérprete.
Em 1967 a TV Record, de São Paulo, concedeu-lhe um programa próprio, Disparada, com direção de Roberto Santos. Inscreveu Ventania (com Hilton Accioly) no III FMPB, que foi desclassificada, e De serra, de terra e de mar (com Téo de Barros e Hermeto Pascoal), no II FIC, da TV Globo, do Rio de Janeiro, que também não obteve classificação. Nesse ano conseguiu sucesso com Arueira e com o frevo João e Maria (com Hilton Accioly).
No mesmo período compôs, a convite dos padres dominicanos de São Paulo, a Paixão segundo Cristino, alegoria da crucificação de Cristo num contexto nordestino; participou do programa Canto Geral, depois Canto Permitido, da TV Bandeirantes, de São Paulo.
Em 1968 gravou o LP Canto geral pela Odeon, com Maria Rita, O plantador (com Hilton Accioly) e músicas suas desclassificadas em festivais. Participou ainda do IV FMPB, com Bonita (com Hilton Accioly). A música foi apresentada duas vezes, pois se desentendera com o parceiro, rompendo com o Trio Maraiá.
Nas eliminatórias para o III FIC, em São Paulo, causou impacto com a apresentação de Caminhando (Prá não dizer que não falei das flores); defendeu-a no festival com o Quarteto Livre, integrado por Naná (tumbadora), Franklin (flauta), Nelson Ângelo (violão) e Geraldo Azevedo (violão e viola), tendo-se classificado em segundo lugar. A música teve grande êxito, tornando-se uma espécie de hino estudantil, mas teve seu curso interrompido pela censura.
Esteve no exílio, inicialmente no Chile (1968), onde compôs a música Desacordonar, com que venceu um concurso, enquanto Caminhando se tornava sucesso. Obrigado a deixar o país, pois se apresentara em televisão como profissional sem a devida licença, seguiu para a Argélia, onde assistiu ao Festival Pan-Africano, viajando depois para a então República Federal da Alemanha, ocasião em que gravou alguns programas para a televisão da Baviera.
Esteve na Grécia, Áustria, Bulgária, cantando em povoados do interior. Na Itália, Sérgio Endrigo regravou músicas suas. Em Paris, França, remontou com um grupo de artistas brasileiros a Paixão segundo Cristino, na igreja de Saint-Germain des Prés, na Páscoa de 1970. Trabalhou com um novo tipo de composição, montada apenas com assobios e sons de violão, com forte ritmo nordestino.
Gravou o LP Das terras de Benvirá, lançado no Brasil pela Philips em 1973, com Na terra como no céu, Canção primeira e De América. Ainda em 1973 gravou apresentações para o programa de Flávio Cavalcanti e para o Fantástico, da TV Globo, mas foram censuradas.
Em 1982, em Presidente Stroessner, Paraguai, apresentou-se em um show, rompendo silêncio de 14 anos. Em março de 1995 apresentou-se no Memorial da América Latina, em São Paulo, no concerto realizado pelo IV Comando Regional (CONAR), em comemoração a Semana da Asa. Na ocasião, um coral de cadetes lançou sua música Fabiana, uma homenagem a FAB.
Em 1997 o Quinteto Violado lançou o CD Quinteto Violado canta Vandré (selo Atração), incluindo antigos sucessos e apenas uma música inédita: República brasileira. Ainda em 1997, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho regravaram Disparada e Canção da despedida no CD Grande encontro 2.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Hyldon

Hyldon (Hyldon de Souza Silva), cantor, violonista e compositor, nasceu na Bahia em 17/04/1951. Um dos grandes representantes da soul music brasileira (ao lado de Tim Maia e Cassiano), tocou com os Diagonais (de Cassiano), Wilson Simonal, Tony Tornado e Tim Maia (de quem foi parceiro) e produziu discos de Jerry Adriani , Erasmo Carlos e Odair José.
Teve seu primeiro e maior sucesso em 1975, com a balada Na rua, na chuva, na fazenda, título de seu primeiro disco, que ainda estourou Na sombra de uma árvore e As dores do mundo.
Gravou "Deus, a natureza e o amor" em 1976, sem conseguir repetir o êxito. Hyldon voltou à luz nos anos 90 através do interesse de bandas como o Kid Abelha, que regravou Na chuva e do Jota Quest, que fez o mesmo com As dores do mundo.

Synval Silva

Synval Silva (Sinval Machado da Silva), compositor, nasceu em Juiz de Fora-MG em 14/03/1911 e faleceu no Rio de Janeiro em 14/04/1994. Filho de um clarinetista da Banda Euterpe Mineira, de Juiz de Fora, aprendeu a tocar viola ouvindo as aulas dadas por um professor ao seu irmão.
Muito cedo começou a tocar em festas na cidade natal. Ainda menino, tornou se mecânico de automóvel, trabalhando depois como motorista. Em 1927, compôs sua primeira música, a valsa Lua de prata, que não chegou a ser gravada. Três anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar no morro da Formiga. Através de Norival Pandeiro, já em 1931 passou a fazer parte do regional Good-Bye, da Rádio Mayrink Veiga, e, pouco depois, conheceu Assis Valente, que o apresentou a Carmen Miranda.
A pedido da cantora, que lhe prometeu um conto por uma música falando em mulato de samba, compôs Alvorada e Ao voltar do samba, gravados por Carmen Miranda, pela Victor, em 1934. Com o grande sucesso alcançado pela segunda composição, a cantora lhe fez novo desafio: dois contos se lhe entregasse outro samba que atingisse pelo menos a metade do sucesso do anterior. Compôs, então, o samba Coração, gravado em 1935, no mesmo selo e pela mesma intérprete, com enorme êxito.
Novamente ela lhe fez outra oferta: três contos se lhe desse outra musica, resultando então o samba Adeus batucada, gravado sob selo Odeon, no mesmo ano, que se tornou grande sucesso e prefixo musical dos programas de Carmen Miranda. Dessa forma, transformou-se no compositor predileto da cantora, tendo tido a maior parte de sua obra gravada por ela.
Em 1936 Aurora Miranda gravou pela Odeon duas músicas de sua autoria, a marcha Amor! amor e o samba Moreno. Em 1937, Carmen Miranda lançou pela mesma etiqueta mais dois sambas seus: Saudade de você e Gente bamba, e, durante o final da década de 1930 e por toda a década de 1940, destacou-se com vários sucessos, gravados pelos intérprete da moda — em 1938, Orlando Silva lançou o samba Agora é tarde, em selo Victor, Odete Amaral gravou pela mesma etiqueta o samba Alma de um povo (com Amado Regis) e o Trio de Ouro registrou em disco Odeon o samba Madalena se zangou (com Ubenor Santos); em 1939, pela Odeon, Carmen Miranda gravou o samba Amor ideal e a marcha Nosso amor não foi assim.
Fundou, em 1940, o G.R.E.S. Império da Tijuca e compôs o samba Sandália de cetim para a escola. Em 1942, Ciro Monteiro lançou em disco Victor o samba Fonte de amor; em 1944, o mesmo cantor gravou, pela Victor, o samba Crioulo sambista (com Nelson Trigueiro) e, em 1945, também para a mesma gravadora, interpretou Pra minha morena; em 1946, o Trio de Ouro lançou pela Odeon o samba Negro artilheiro; e, em 1947, o samba Geme, negro (com Ataulfo Alves) foi gravado pelo parceiro, sob selo Victor.
Visitou Carmen Miranda nos EUA, em 1950, permanecendo lá por quatro meses. Só em 1973 gravaria um LP para a RCA (na série Documento), incluindo sete músicas antigas e mais Amor e desencontro (com Marilene Amaral). Sócio fundador da ABCA, da UBC e da SBACEM, gravou seu depoimento para o MIS, do Rio de Janeiro, recebendo do mesmo em 1971 o título de Bacharel em Samba, com direito a diploma e anel. Foi o autor do samba-enredo As minas de prata (com Mauro Afonso e Jorge Melodia), com o qual a Império da Tijuca desfilou em 1974.
Obras: Adeus, batucada, samba, 1935; Ao voltar do samba, samba, 1934; Coração, samba, 1935; Gente bamba, samba, 1937; As minas de prata (c/Mauro Afonso e Jorge Melodia), samba-enredo, 1974; Moreno, samba 1936; Sandália de cetim, samba, 1940.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Noite Ilustrada

Noite Ilustrada (Mário Sousa Marques Filho), cantor, compositor e instrumentista, nasceu em Pirapetinga MG em 10/4/1928. Começou a carreira artística como violonista na revista musical Noite ilustrada, apresentada por Zé Trindade, que estreou em Além Paraíba MG. O apelido foi dado por Zé Trindade, nessa época.
Radicado no Rio de Janeiro, foi integrante do G.R.E.S. da Portela, escola de samba com a qual se apresentou em São Paulo, em 1955. Depois das apresentações ficou nessa cidade, trabalhando nas boates Captain’s Bar e Meninão.
Em 1958 foi contratado pela Rádio Nacional e pela TV Paulista, e gravou o primeiro disco, pela Mocambo, cantando Cara de boboca (Jaime Silva e Edmundo Andrade). Gravou pela Philips os seguintes LPs: O ilustre, em 1962, com Toalha de mesa (Dora Lopes, Carminha Mascarenhas e Chumbo); Noite Ilustrada, em 1963, com Volta por cima (Paulo Vanzolini), seu maior sucesso; Noite no Rio, em 1964, com A flor e o espinho (Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha); e Caminhando, em 1965, com O neguinho e a senhorita (Noel Rosa de Oliveira e Abelardo da Silva).
Em 1966, lançou pela Odeon o LP Depois do Carnaval, com destaque para a faixa-título (Jorge Costa e Paulo Roberto); e, desde então, passou a gravar pela Continental, lançando, em 1969, Noite Ilustrada, com Sim (Cartola e Osvaldo Martins); em 1970, Samba sem problemas, com Barracão (Luís Antônio e Oldemar Magalhães), em 1971, Noite Ilustrada, com Balada número 7- Mané Garrincha (Alberto Luís); em 1972, Noite interpreta Marques Filho, com Recado do mestre, entre outras; em 1974, Samba sem hora marcada, com Eu, você e Mangueira (Jorge Costa); e, em 1978, Não me deixe só.
Em 1981 lançou pela Warner o LP 0 fino do samba. No período entre 1984 e 1994 morou em Recife PE, e gravou, pela Polydisc, quatro LPs reunindo músicas novas e antigos sucessos.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Irmãs Galvão

Irmãs Galvão - Dupla sertaneja formada por Mary Zuil Galvão (Ourinhos SP 1940-) e Marilene Galvão (Palmital SP 1942-). Mary toca sanfona; Marilene, viola e violão. Incentivadas pelos pais, formaram a dupla em julho de 1947, em Sapesal SP.
Apresentaram-se depois na Rádio Paraguaçu Paulista, em programa de auditório, já com grande sucesso. No ano seguinte, cantaram na Rádio Difusora, de Assis SP, no programa Pinguinho de Gente.
Em 1952 viajaram para São Paulo SP com os pais. O pai inscreveu a dupla no programa Tenda do Salomão, na Rádio Piratininga. Depois passaram para o programa Torre de Babel, da Rádio Piratininga, ao lado de artistas famosos como Nelson Gonçalves e Dolores Duran. Contratada pela Rádio Nacional, a dupla apresentou-se no programa Ronda dos Bairros.
Em 1954 estrearam na Rádio Bandeirantes, no programa Serra da Mantiqueira, com o Comendador Biguá e Capitão Barduíno. Seus primeiros discos 78 rpm foram gravados em 1957 e 1958, na RCA Victor.
Em 1959 foram contratadas pela Chantecler, na qual gravaram seu primeiro LP, além de alguns discos 78 rpm. É a mais antiga dupla sertaneja feminina em atividade no Brasil. Comemorou seus 50 anos de carreira com um show no parque da Água Branca, em São Paulo, com a presença de 6 mil pessoas, sendo homenageadas por Sula Miranda, Cézar e Paulinho, Tinoco e Tinoquinho, entre outros.
Em sua longa carreira - até 1997, 22 LPs, 10 rpm e 3 CDs (destaque para Lembranças, pela Warner) -, tiveram vários sucessos, como o disco Olhos de Deus, pela Continental East West, que inclui a moda-de-viola Rei do gado (Teddy Vieira), o bolero Pedaço de mim (Elias Muniz), a toada Cheiro de relva (Zé Fortuna e Dino Franco) e o pagode As três maravilhas (Moacir dos Santos e Paraíso), além da faixa-título, o balanço Olhos de Deus (Fátima Leão). Fizeram sucesso ainda com o "rock-pira" Coração laçador (Carlos Puppy) e a guarânia Pedacinhos (Carlos Randall).
A dupla recebeu Disco de Ouro em 1986, com No calor dos teus abraços, lambada de Cecílio Nena e Nicéia Drummond. Em 1994 recebeu o Prêmio Sharp de melhor dupla sertaneja. CDs: Lembranças, 1992, Warner 177642-2; Olhos de Deus, 1996, Continental 063015833-2.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art Ed., 1977. 3p.

João Donato

Quando se fala em bossa nova, qual é o primeiro nome que lhe vem à cabeça? Depois de João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, na certa a enorme maioria vai pensar em Carlos Lyra, Johnny Alf, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli. Poucos se lembrarão de João Donato.
No entanto, seja ele, talvez, o grande precursor do movimento. Quando João Gilberto surge no divisor de águas Chega de saudade, muitos especialistas viram naquela nova batida de violão os ecos do acordeão de Donato. Embora soasse mais organizada e compacta que os sons que se ouviam nas jam sessions da boate Plaza (na qual Donato era a atração maior), a nova musicalidade estava impregnada de referências sonoras que evocavam o estilo do João menos conhecido.
Nas palavras do irmão e parceiro Lysias Ênio, Donato sequer chegou a fazer parte da bossa nova. Foi, no máximo, o responsável pela "inseminação artificial". Sempre dentro de tudo o que estivesse relacionado ao movimento bossanovista, esteve ao mesmo tempo fora dele. Não importava o que estivesse tocando: acordeão, piano ou trombone, qualquer que fosse o instrumento ou o gênero musical, Donato sempre tocava para si próprio, o que levava à loucura os contrabaixistas e bateristas que se esforçavam para acompanhá-lo.
Quando conheceu pessoalmente João Gilberto, no início dos anos 50, Donato era um músico mais evoluído e já possuía a fama de excêntrico. Tornaram-se amigos inseparáveis, já que as afinidades não ficavam apenas no plano musical; tinham também o mesmo comportamento imprevisível e anti-social. Juntos, faziam visitas periódicas ao Instituto Pinel, em Botafogo, só para observarem os loucos. Sabe-se lá por que faziam programas do tipo, mas a verdade é que por estarem sempre juntos acabaram acentuando suas esquisitices e, mais importante, suas experiências musicais. Pode-se dizer que o encontro dos dois Joões foi de extrema importância para os rumos que a música brasileira tomaria nos anos subseqüentes.
João Donato de Oliveira Neto nasceu em Rio Branco, Acre, em 17 de agosto de 1934, mas passou a infância e a adolescência nas praias do Rio de Janeiro. Tinha uma relação sufocante com o pai, um rigoroso major da aeronáutica sempre pronto a castigar o garoto a cada nota baixa na escola. Aluno relapso e indisciplinado, Donato repetiu quatro vezes o ginásio, até decidir abandonar de vez os estudos, em 1949.
Para ficar o maior tempo possível longe de casa, passou a andar com os amigos músicos, que freqüentavam diariamente os bares cariocas onde se tocava violão e conversava sobre música. Nessa época o menino já tocava muito bem o acordeão. Seu refúgio era o lendário Sinatra-Farney Fan Club, localizado no porão da casa de uma amiga cantora, na Tijuca. O espaço teve apenas 17 meses de vida, - de fevereiro de 49 a julho de 50 - mas nesse tempo comportou músicos extraordinários, todos eles meninos que não ultrapassavam os dezesseis anos de idade.
A lenda que se criou ao redor do Fan Club compara-o ao Minton's, na rua 118, em Nova York - onde todos os gênios do be-bop se formariam. Mas o Sinatra-Farney não era um clube noturno, de ambiente enfumaçado e tilintar de copos. A polícia e a vizinhança não deixavam que o som passasse das dez da noite e, embora já fossem pequenos aspirantes à boêmios profissionais, os garotos estavam apenas começando a conhecer o mundo.
Romantismo à parte, o clube foi sim uma verdadeira escola para aquela geração que mais tarde viria a criar a bossa nova. Passaram por lá gente como Johny Alf, Paulo Moura, Nora Ney, Dóris Monteiro e o próprio João Donato. Além de serem músicos e/ou cantores (requisito básico para serem aceitos no clube), eram fãs de carteirinha dos crooners Dick Farney e Frank Sinatra, que eram reverenciados durante as sessões de música. No porão havia um velho piano (a primeira paixão de Johny Alf) que acompanhava o acordeão de Donato.
Inspirado no acordeonista americano Ernie Felicce, aos quinze anos de idade Donato já tocava melhor que seu ídolo. O primeiro grupo que integrou chamava-se Os Modernistas, do qual ele era o arranjador. Muitos shows acabaram não acontecendo por causa de seus súbitos desaparecimentos. Como ele era o líder do grupo, sem a presença do acordeão os shows e bailes tinham de ser cancelados.
Começava aí sua fama de indisciplinado; no fundo, era um músico tão auto-suficiente que se dava o luxo de cometer pequenas irresponsabilidades, como ficar conversando sobre jazz com o primeiro que lhe desse corda - e varar a noite, deixando de lado os compromissos "profissionais". O grupo não teve vida longa. Mais tarde, funda um outro grupo, com quase a mesma formação. Com o nome de Os Namorados, gravaram em 1953 uma nova versão para Eu Quero um Samba, sucesso na voz de Lúcio Alves.
Devido ao arranjo de Donato, a nova versão conseguiu ficar ainda melhor do que a original. Foi o seu primeiro cartão de visitas. Neste novo registro, os baixos de seu acordeão quebravam o ritmo com uma avalanche de síncopes, produzindo uma batida de efeito desconcertante, que antecipava a do violão de João Gilberto, cinco anos antes de Chega de Saudade. Era tão "moderno" que na época ninguém entendeu nada. E eles não emplacaram de novo.
Só a partir de 1954 começou a ter empregos mais ou menos fixos. Tocou na Cantina do César junto com Johny Alf. A casa começou a ser freqüentada por um público fiel interessado em jazz. O modesto prestígio entre os fregueses da cantina fez com que fosse convidado, em 1957, para tocar na boate do Hotel Plaza.
Quando Donato chega, ele se torna o responsável por fazer do local um reduto de músicos. Tocava-se de tudo na boate do Plaza, de jazz à baião. Só que Donato transfigurava o baião a tal ponto que, se Luiz Gonzaga entrasse lá por acaso, não seria capaz de reconhecer o ritmo que ajudou a criar.
Foi uma época de efervescência musical que durou até 1958, quando ele se tornou o músico mais respeitado do Rio. E, infelizmente, o menos confiável. Apesar de estar frequentemente sendo chamado para todo o tipo de eventos envolvendo música, ele continua faltando quando não estava disposto a ir. Diziam que João Donato era indeciso e dispersivo porque ainda não havia decidido qual instrumento queria tocar. Oscilava entre o acordeão, o piano e o trombone.
Um dia ele tomou todas no final de um baile e alguém roubou seu acordeão. Só então que, desmotivado a comprar outro, ele optou pelo piano. Em 59, ninguém mais queria saber de chamar João Donato para nada. Passou a ter dificuldades até para tocar de graça. A medida que evoluía como instrumentista e arranjador, ampliava sua fama de maluco e irresponsável. Faltas, atrasos e excesso de aditivos acabaram tornando-o persona non grata nas casas de show do Rio de Janeiro.
Sem emprego, se mandou para os Estados Unidos a convite do músico Nanai, que o chamou para uma temporada. Acabou ficando treze anos. Sua estadia na Califórnia marca o início de uma pequena revolução jazzística da qual ele foi participante ativo. Donato simplesmente conseguiu o que nunca pode fazer no Brasil: reincorporar a musicalidade afro-cubana ao jazz.
Adotado por "cobras" do gênero latino como os cubanos Tito Puente, Mongo Santamaria e Johny Rodrigues e os americanos Herbbie Mann e Eddie Palmieri, João Donato abriu caminho para que, mais tarde, João Gilberto e Tom Jobim fizessem o enorme sucesso que até hoje perdura no exterior.
No meio de todas aquelas congas, timbales e bongôs característicos do latin jazz, Donato encontrou finalmente o que procurara a vida toda no Rio: a possibilidade de rachar os sopros e incluir harmonias mais herméticas ao piano. Em breve, aqueles que um dia foram seus ídolos estavam incluindo em seus repertórios Amazonas, A Rã e Cadê Jodel?, composições de Donato que se tornariam standards do que viria a ser chamado de funky.
Logo faria seus discos na Pacific Records e teria seu songbook gravado por outros jazzistas. Seu grande disco na fase americana foi A Bad Donato, uma infernal cacofonia free-jazzística com poderosa percussão afro-cubana. A melhor faixa: The Frog.
Ao voltar para o Brasil, João Donato reencontrou-se com a música brasileira, mas não abandonou sua paixão pela fusão entre jazz e ritmos caribenhos. Estabeleceu-se como arranjador, participou de discos de Gal Costa, Gilberto Gil e uma infinidade de outros grandes nomes, compôs com eles e continuou a se apresentar em casas de jazz no circuito Rio - São Paulo.
Um músico que sempre pairou sobre tudo o que se fez em música brasileira a partir dos anos 50 e que, devido à sua mania de reclusão, ainda não se deixou (ou não deixaram, quem sabe) conhecer devidamente.
Fonte: Correio Popular (Campinas, outubro de 2000)

Quinteto Violado

Quinteto Violado - Conjunto instrumental-vocal organizado em 1970, em Recife PE, que se caracteriza pela interpretação de músicas nordestinas e a realização de pesquisas sobre o folclore brasileiro.
Inicialmente formado por Toinho (Antônio Alves, Garanhuns PE 1943), canto e baixo acústico; Marcelo (Marcelo de Vasconcelos Cavalcante Melo, Campina Grande PB 1946), canto, viola e violão; Fernando Filizola (Limoeiro PE 1947); Luciano (Luciano Lira Pimentel, Limoeiro PE 1941), percussão, e Sando (Alexandre Johnson dos Anjos, Garanhuns, 1959), flautista, na década de 1990 passou a ser integrado por Toinho, baixo acústico, compositor, cantor e diretor musical do conjunto; Marcelo, violonista, violeiro, cantor e compositor; Ciano (Luciano Alves, Garanhuns PE 1959); Roberto Menescal (Roberto Menescal Alves Medeiros, Garanhuns PE 1964), cantor e percussionista; e o tecladista e arranjador Dudu (Eduardo de Carvalho Alves, Recife PE 1970).
Apresentou-se pela primeira vez, ainda sem a denominação que o tornou famoso, em janeiro de 1970, na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco. Em outubro de 1971, quando se apresentou no Teatro da Nova Jerusalém (Fazenda Nova PE), seus integrantes foram chamados de "os violados", nascendo dai o Quinteto Violado. Gilberto Gil os apresentou ao produtor Roberto Santana, da Phonogram, e o aparecimento do conjunto foi exaltado por Caetano Veloso.
Em 1972 apresentou-se em São Paulo e lançou o primeiro LP, Quinteto Violado em concerto, pela Philips, que incluía Asa branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira). O disco foi lançado no Japão, com o titulo Asa Branca. Ainda em 1972 fez temporada na boate Monsieur Pujol e no restaurante Di Monaco, no Rio de Janeiro, e no Teatro Vila Velha, de Salvador BA, seguindo-se atuação no show O Anjo Guerreiro contra as baronesas, em Recife.
Com o produtor Marcus Pereira, participou da pesquisa e posterior gravação da serie de quatro discos Musica Popular do Nordeste (1973), depois reeditados em CD. Por sua participação na pesquisa musical, arranjos e produção da serie, recebeu os prêmios Noel Rosa e Estácio de Sá, este do MIS, do Rio de Janeiro.
Ainda em 1973 gravou o disco Berra Boi (Philips). No ano seguinte montou o show A feira, que lançou Elba Ramalho e foi gravado em LP pela Philips, iniciando também circuito de concertos de música nordestina nas universidades brasileiras.
Em 1975 montou o espetáculo Folguedo (lançado em disco pela Philips), apresentado no adro do Mosteiro de São Bento, de Olinda PE. O grupo participou ainda do MIDEM, na França, e do Encontro Latino-Americano de Turismo, em Trujillo, Peru.
Entre 1977 e 1978 realizou 97 concertos-aula destinados a alunos da rede oficial de ensino de Pernambuco. Realizou varias montagens de grande sucesso: Missa do vaqueiro (1976), Antologia do baião (1977), Até a Amazônia (1978), Pilogamia do baião (1979), o infantil O rei e o jardineiro (1981), Notícias do Brasil (1982), Kuire (1987) e História do Brasil (1987), todos gravados em LPs e depois reeditados em CDs.
Além desses, gravou os LPs Desafio (Independente,1981), Coisas que o Lua canta (Continental, 1983; CD Philips), Ilhas de Cabo Verde (Mato, 1988), Algaroba (RGE, 1993), entre outros.
Foi de grande importância sua participação na animação do Carnaval do Recife, com apresentações no Bloco Azul, a partir de 1977, sendo em parte responsável pela volta do "Carnaval Participação" às ruas. Em 1995 produziu e gravou a trilha sonora do filme Corisco e Dadá, dirigido por Rosemberg Cariry.
Ao comemorar 25 anos de atividades, em 1997, o conjunto somou em seu currículo: 30 discos lançados no Brasil e seis outros no exterior; dez viagens internacionais; duas premiações no MPB Shell (1980 e 1981), no Rio de Janeiro e três Prêmios Sharp de Música (1993, 1994 e 1996).
Em 1996 o grupo montou o espetáculo 25 anos não são 25 dias, na concha acústica da UFPE, reunindo antigos e novos componentes do cenário musical nordestino e, em 1997, foi criada a Fundação Quinteto Violado, com o objetivo de dar apoio a promoções culturais.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha

Maria Toledo

Maria Toledo

Maria Toledo (Maria Helena de Toledo), cantora e compositora, nasceu em Belo Horizonte - MG em 30/6/1937. Iniciou a carreira aos dez anos, cantando em dupla com a irmã, Rosana Toledo, no programa Gurilândia, de Rômulo Pais, na Rádio Guarani, de Belo Horizonte.
Em 1951, a dupla desfez-se, quando se mudou para o Rio de Janeiro RJ, e só reapareceu em 1959, na TV Itacolomi, de Belo Horizonte, no programa Uma Voz ao Longe. Sua primeira gravação foi Me leva pra longe (com Luiz Bonfá), na RCA, em 1960. Entre seus parceiros, destacam-se Baden Powell, Chico Feitosa e Geraldo Vespar.
Casada com Luis Bonfá, viajou em 1962 para os EUA, onde gravou três LPs: Maria Toledo sings Bonfá, na etiqueta United Artist, em 1962; Jazz Samba Encore, cantando em português, acompanhada por Stan Getz, na Verve, em 1963; e Braziliana, com Luis Bonfá e o norte-americano Bob Scott, em 1965.
No ano seguinte participou do 1 FIC, da TV-Rio, do Rio de Janeiro RJ, com Dia das rosas (com Luís Bonfá), cantada por Maysa e classificada em terceiro lugar. Em 1967, no II FIC, da TV Globo, do Rio de Janeiro, apresentou duas musicas: Vem comigo cantar e Amada, canta (ambas com Luis Bonfá).
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Marisa Gata Mansa

Marisa Gata Mansa

Marisa Gata Mansa (Marisa Vertullo Brandão), cantora, nasceu em 27/04/1933 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 09/01/2003. Começou cantando jazz, como crooner de orquestra.
Nos anos 50, graças à sua ligação com Dolores Duran e um namoro com João Gilberto, aproximou-se do movimento da bossa nova, gravando em seu primeiro 78 rotações, de 1953, uma música de João Gilberto e Russo do Pandeiro (Você esteve com meu bem).
Fez teatro em São Paulo nos anos 60 e, de volta ao Rio de Janeiro, trabalhou em boates e casas noturnas. Depois de um intervalo de quase 20 anos sem lançar um disco, gravou em 1997 o CD Encontro com Antônio Maria, com músicas do compositor. Também homenageou a amiga Dolores em show.
Entre seus maiores sucessos estão Viagem (João de Aquino/ P.C. Pinheiro), Leva-me Contigo (Dolores Duran), Tudo acabado (J. Piedade/ Oswaldo Martins), Leopardo (Vital Lima) e Caçador de mim (Luiz Carlos Sá/ Sérgio Magrão).

Oscar Castro-Neves

Oscar Castro-Neves, arranjador, instrumentista e compositor, nasceu em 15/5/1940 no Rio de Janeiro RJ. Com seis anos de idade já tocava violão e cavaquinho. Em 1954 formou um conjunto com os irmãos Mano (piano) Leo (bateria) e Ico (contrabaixo), apresentando se na Rádio Difusora de Petrópolis RJ.
No Rio de Janeiro continuou os estudos e integrou se ao movimento musical que então surgia, a bossa nova. Em setembro de 1959 apresentou-se no Festival do Samba Moderno, na Faculdade de Arquitetura, e no ano seguinte Carlos Lyra gravou sua composição Chora tua tristeza (com Luverci Fiorini), em seu primeiro LP gravado para a Philips.
Com novo grupo, do qual participavam seus irmãos Ico e Leo, apresentou-se no Festival Nacional da Bossa Nova, no Teatro Record, em São Paulo SP, e no show Noite do sambalanço, na PUC, de São Paulo.
Em 1960, o conjunto acompanhou diversos cantores no disco Bossa nova mesmo, lançado pela Philips, que incluía duas músicas suas, Menina feia, cantada por Lúcio Alves, e Chora tua tristeza, tocada pelo conjunto.
Em 1962, formando um quarteto com Ico, Henry Percy Wilcox (guitarra) e Roberto Ponte (bateria), em que tocava piano e violão, seguiu para New York, EUA, e se apresentou no Festival da Bossa Nova, no Carnegie HalI, gravando depois com Milton Banana o LP O ritmo e o som da bossa nova, pela Audio Fidelity, com Bossa-nova blues e Não faz assim (de sua autoria).
Em 1964 participou, com Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi e o Quarteto em Cy, do show da boate Zum Zum, Rio de Janeiro, produzido por Aluisio de Oliveira e lançado em disco pela Elenco. No mesmo ano, Alaíde Costa apresentou no show O fino da bossa, no Teatro Paramount, de São Paulo, a composição Onde está você?, que foi o grande êxito do compositor.
No ano seguinte, o conjunto apareceu em algumas faixas de LPs gravados ao vivo, como A bossa nova no Paramount e O fino da bossa, lançados pela RGE, e ainda Bossa nova no CarnegieHall, lançado pela Audio Fidelity.
Fez os arranjos e a direção musical da trilha sonora da peça Liberdade, liberdade, de Millor Fernandes e Flavio Rangel, e compôs a musica do filme Toda donzela tem um pai que é uma fera, dirigido por Roberto Farias.
Em 1966 participou da gravação do LP Tom Jobim apresenta, com a composição Morrer de amor (com Luverci Fiorini). Nesse mesmo ano seguiu para os EUA, onde trabalhou para Sérgio Mendes ate 1981, participando demais de quinze. Também fez arranjos para discos de Quincy Jones, Laurindo de Almeida, Flora Purim e outros.
Em 1973 gravou para a Odeon o LP Alaíde Costa & Oscar Castro-Neves, incluindo Companheira da manhã (com Werneck) e Retrato em branco e preto (Chico Buarque e Tom Jobim).
Em 1975 colaborou na trilha sonora da novela Gabriela, da TV Globo, fazendo também, em 1982, os arranjos e a direção musical do filme Gabriela, cravo e canela, de Bruno Barreto.
Vive em Los Angeles, EUA, compõe músicas para as emissoras de TV NBC e KVEA, participa, como orquestrador, de filmes de Hollywood e promove, desde 1992, noites de música brasileira no Hollywood Bowl. Produz também discos de jazz e já lançou cinco álbuns solo. É proprietário da produtora Kennis Enterprises.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora

Marion Duarte

Nascida em 18 de março de 1938, no bairro carioca de Bento Ribeiro, Marion Pereira de Carvalho Gonçalves, ou simplesmente Marion Duarte, se tornou popular nos idos de 1950, mais precisamente em junho de 1957, quando começou sua carreira pela Rádio Solimões de Nova Iguaçu, no programa Valores Novos comandado por Marcos Alexandre.
Daí seguiu se apresentando em vários outros programas da Rádio Nacional e Rádio Mayrink Veiga, entre os quais o Programa César de Alencar, Programa Paulo Gracindo e Programa Raymundo Nobre de Almeida (onde recebeu a faixa de Favorita da Associação de Cabos e Soldados do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro).
Participou também da Caravana da Alegria, comandada pelo então comunicador da Rádio Globo, Luiz de Carvalho. Posteriormente foi contratada pelas Emissoras Associadas (Rádio e TV Tupi de todo o Brasil) e pelo Dancing Avenida, tendo sido capa de várias revistas populares da época como Revista Rouxinol, em Porto Alegre, Canta, Moçada e Moda e Penteado, no Rio de Janeiro e, entre outras, ao lado do “Velho Guerreiro” na Revista Radiolândia, recebendo também, nesse período áureo, vários troféus, medalhas e prêmios tais como o "Troféu Revelação"(1958), da Revista do Rádio-RJ; “Troféu Zé da Zilda"(1962), do Programa A Discoteca do Chacrinha; “Troféu Sua Majestade o Cartaz"(1963), da TV Jornal do Comércio- Recife-PE; “Troféu Sete Dias em Destaque”(1964), da TV Marajoara, Belém-PA, etc.
No mundo discográfico, Marion, entre os idos de 50 e 60, gravou seus Compactos e 78 Rpms pelos selos Copacabana Discos, Continental, Sondomar e Hot, obtendo êxito, entre outras canções, com a toada Quando Corre Uma Estrela (H. Simões/L. Lemos/A. Correia), o samba Triste Palhaço (A. Cruz/C. Silva) e o tango Milagre (Umberto Silva/Barbosa da Silva), onde fez dupla com o grande cantor Albertinho Fortuna.
Seu último sucesso desta fase foi a canção Preciso de Você Urgentemente (Luiz Araújo/Oldemar Magalhães), já no final da década de 60.
Após 12 anos afastada do mundo do disco, em 1979, Marion é convidada para defender o samba Praia de Amaralina, de Tião do Pandeiro e Orlando Coto Dominguez, no Primeiro Festival de Música da Associação Atlética do Banco do Brasil (a AABB do Rio de Janeiro). A música obtém a quinta colocação e Marion, o direito de participar do LP Só pra Começar que reuniu as finalistas.
A seguir, grava um compacto simples com as faixas Em Nome do Povo e Galera do Mengão, recebendo por esta gravação, o "Troféu Pererê", do Clube de Regatas do Flamengo, ao lado de Nana Caymmi e Elisete Cardoso que, na mesma ocasião, também receberam o troféu.
Em 1985, grava mais um compacto, desta vez duplo, Mulher de Verdade (G. Martins/Walter Coragem/Verinha) e, no ano seguinte, assina contrato com a gravadora Top-Tape para fazer seu primeiro LP Marion Duarte, obtendo grande êxito com o samba Sou Pagodeira (Silas de Andrade/Café). Nesta segunda fase de sua carreira, a artista também recebeu várias honrarias, tais como o “Diploma de Homenagem do G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira” e o “Diploma de Melhor do Ano”, do Programa Recordar é Viver, da Rádio Capibaribe, Recife-PE.
Atualmente, continua fazendo suas gravações, mas já na era dos trabalhos independentes, tendo lançado os cds Doce Amor (1999) e Fonte de Energia (2003), seu mais recente trabalho.
Também foi grande a ligação da cantora com o saudoso Collid Filho (do Salão Grenat), do qual foi parceira em algumas composições, destacando-se a canção Doce Amor, onde ouvimos a declamação do comunicador que, em várias ocasiões, afirmou ser Marion sua intérprete preferida.

Eduardo Dusek

Eduardo Dusek, cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro-RJ em 01/01/1958. Começou a carreira artística como pianista de peças de teatro aos quinze anos, quando estudava na Escola Nacional de Música. Mais tarde passou a compor suas próprias canções e montou uma banda, que acabou apadrinhada por Gilberto Gil.
A partir de 1978 já tinha algumas composições gravadas por nomes de peso da MPB, como As Frenéticas (o samba Vesúvio), Ney Matogrosso (o fox Seu tipo) e Maria Alcina (o frevo Folia no Matagal, dois anos depois regravada por Ney Matogrosso) - todas em parceria com Luís Carlos Góis. Suas composições buscavam aliar sátira e bom humor.
Em 1980 participou do festival MPB Shell da Rede Globo com a debochada canção Nostradamus, que não se classificou, mas ficou conhecida pelo público. Por essa época gravou o primeiro LP, Olhar brasileiro.
Mas o estouro sucesso viria em 1982, quando flertou com o ainda incipiente pop/rock, no LP Cantando no Banheiro!, com Barrados no Baile (com Luís Carlos Góis), Cabelos negros (Com Luiz Antonio de Cássio) e Rock da Cachorra (Leo Jaime).
Dois anos depois, notabilizou-se com o LP Brega-chique, cuja faixa-título, mais conhecida como Doméstica, fazia uma sátira social, bem no clima do teatro besteirol da época. Em 1986, lançou Dusek na sua, com Aventura.
Em 1989 voltou à cena com o musical Loja de Horrores, em que atuava no papel de dentista. Nos anos 90, afastado da fama, atuou como diretor de espetáculos e, no fim da década, voltou a apresentar alguns trabalhos como humorista e cantor, um deles sobre Carmen Miranda.

Jaime Ovalle

Jaime Ovalle (Jaime Rojas de Aragón y Ovalle), compositor e poeta, nasceu em Belém PA em 5/8/1894 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 9/9/1955. Influenciado pela irmã, que estudava piano e bandolim com Eduardo Pierantoni, dedicou-se a esses instrumentos e, sempre como autodidata, mais tarde aprendeu violino e violão.
Ainda jovem, transferiu-se para o Rio de Janeiro, relacionando-se ali com intelectuais e músicos. Poeta, conhecedor da música popular brasileira e violonista de choros e serestas, foi freqüentador assíduo da casa de Heitor Villa-Lobos. Nomeado por concurso para a Fazenda Nacional, ocupou cargos em New York, EUA, e Londres, Inglaterra, onde escreveu grande parte de sua obra.
Regressando ao Rio de Janeiro, por volta de 1937 publicou, por conta própria, toda a sua obra musical, na Casa Artur Napoleão. Nunca realizou a apresentação pública dessas composições, mas exibiu-as em audição privada em casa do poeta Augusto Frederico Schmidt (1906—1 965), na interpretação do pianista Mário Neves.
Suas canções Azulão e Modinha, ambas com versos de seu grande amigo Manuel Bandeira, são consideradas suas obras mais importantes.
Membro fundador da Academia Brasileira de Música, teve sua obra apresentada formalmente pela primeira vez, em 1959, no programa Música e Músicos do Brasil, da Rádio MEC em palestra de Andrade Murici, ilustrada pelo soprano Gelsa Ribeiro da Costa e pela pianista Ana Cândida.
Não publicou livros, deixando uma obra inédita, The Foolish Bird (O pássaro tolo), poemas escritos em inglês.
Obras
Música orquestral: Pedro Álvares Cabral, opus 16, poema sinfônico, s.d.; Música de câmara: Dois improvisos, p/três clarinetas, s.d.; Música instrumental: Desafio, opus 6, n 2, p/plano, s.d.; Dois retratos: n° 1 — Manuel Bandeira; o 2— Maria do Carmo, opus 14, p/piano, s.d.; Noturno, opus 25, p/piano, s.d.; Scherzo, opus 9, n° 2, p/piano, s.d.; Música vocal: Azulão, opus 21, p/canto e piano, s. d.; Berimbau, opus 4, p/canto e piano, s.d.; Modinha, opus 5, p/canto e piano, s.d.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira – Art Editora.

Wilson Simonal

Wilson Simonal

Wilson Simonal (Wilson Simonal de Castro), cantor, nasceu em 26 de fevereiro de 1939 no Rio de Janeiro. Descobriu sua vocação artística enquanto prestava o serviço militar obrigatório.
Como muito dos grandes artistas, começou a carreira nos palcos de bares e boates da noite carioca, cantando rock, predominantemente em inglês. Foi o compositor e produtor Carlos Imperial que o descobriu e o levou ao seu programa de televisão, além de ajudá-lo a gravar seu disco de estréia, lançado em 1963, com um forte acento bossanovista.
Em pouco tempo Simonal se tornaria um dos principais artistas da época, emplacando inúmeros hits, como Meu limão, meu limoeiro, Mamãe passou açúcar em mim, Vesti azul e Sá Marina.
Até hoje não provada, Simonal recebeu a acusação de ter relações com o regime militar e ter, inclusive, denunciado colegas de profissão, fato que atrapalhou bastante sua carreira.
Por conta da fama de “traidor”, foi esquecido durante as décadas de 80 e 90, até ser relembrado com a coletânea “A Bossa de Wilson Simonal”. Morreu em junho de 2000.
Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora; MusicalMPB - Wilson Simonal.

João Roberto Kelly

João Roberto Kelly

João Roberto Kelly (João Roberto Esteves Kelly), compositor, cantor e produtor, nasceu no Rio de Janeiro-RJ em 23/6/1937. Aos 11 anos, começou a tocar piano de ouvido, aprendendo com a mãe e a avó, ambas pianistas. Depois estudou com professora particular e começou a compor.
Iniciou carreira em 1957, fazendo a partitura da revista Sputnik no morro, que Geysa Bôscoli e Leon Eliachar apresentaram no Teatrinho Jardel, no Rio de Janeiro, em 1957.
Estreou na televisão em 1963, fazendo a abertura musical dos programas da TV Excelsior, onde mais tarde, convidado por Carlos Manga e Chico Anísio, passou a musicar os quadros dos seus shows humorísticos, participando, assim, de um dos programas mais famosos na época (1964), Times Square.
Daí em diante, dedicou-se a televisão, tendo sido produtor e apresentador em varies canais de televisão no Rio de Janeiro — na TV-Rio, produziu Praça Onze, Noites Cariocas e Musikelly; na TV Globo, foi apresentador de Espetáculos Tonelux; e, em 1970, voltando para a TV-Rio, produziu e apresentou Rio Dá Samba.
Tornou-se mais conhecido como compositor carnavalesco, destacando se em vários Carnavais das décadas de 1960 e 1970: em 1964 fez grande sucesso com Cabeleira do Zezé (com Roberto Faissal), marcha gravada por Jorge Goulart; no ano seguinte, Emilinha Borba gravou com êxito sua marchinha Mulata iê iê iê e Dalva de Oliveira interpretou em disco o Rancho da Praça Onze (com Chico Anísio), música que já havia, sido apresentada ao publico em 1960 e que foi modificada para o relançamento; em 1967, sua música Colombina iê-iê-iê (com David Nasser) foi uma das mais cantadas no Carnaval; e, em 1971, sua marcha Paz e amor (com Toninho) foi defendida por Clóvis Bornay.
Venceu, em 1972, o concurso de Carnaval da TV Tupi com Israel (com Carlos Gonçalves dos Santos), cantada por Emilinha Borba, e recebeu o Medalhão de Ouro da TV Globo, em 1974, pelo seu Cordão da Bahia. Ainda nesse ano, gravou um LP pela Odeon, cantando sucessos seus como Boato e Gamação, gravados anteriormente por cantores como Elza Soares, Miltinho e Dóris Monteiro.
Obras
Boato, samba, 1961; Brotinho bossa nova, samba, 1960; Cabeleira do Zezé (c/Roberto Faissal), marcha, 1964; Colombina iê-iê-iê (c/David Nasser), samba, 1967; Dor de cotovelo, samba, 1961; Figurinha de boate, samba, 1961; Gamação, samba, 1962; Joga a chave, meu amor (c/J. Rui), marcha, 1965; Linda mascarada (c/David Nasser), marcha-rancho, 1967; Mulata iê-iê-iê, marcha 1965; Rancho da Praça Onze (c/Chico Anísio), marcha rancho, 1965; Rancho do Lalá (c/David Nasser), marcha. 1967; Samba do teleco-teco, samba, 1958; Só vou de balanço, samba, 1963; Times Square (c/Meira Guimarães), hully-gully, 1964.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Luís Carlos Vinhas

Luís Carlos Vinhas (Luís Carlos Parga Rodrigues Vinhas), pianista e compositor, nasceu no Rio de Janeiro - RJ em 19/5/1940. Iniciou-se no meio artístico em 1958, tocando em festas e em pequenos espetáculos.
Na época começava a surgir a bossa nova, movimento em que se engajou rapidamente. Uma das primeiras gravações da bossa nova teve sua participação especial em O barquinho, em 1958. Integrou o Bossa Três, primeiro conjunto instrumental de bossa nova, com o qual fez apresentações nos EUA, participou do programa Ed Sulivan Show, e gravou três discos em New York pela Audio Fidelity, lançados em 1962: Bossa Três, Bossa Três & Jo Basile e Bossa Três e seus amigos.
De volta ao Brasil, participou de diversas gravações em 1964, entre as quais: Jorge Ben (Philips), Wilson Simonal (Odeon) e Quarteto em Cy (Forma).
A partir de 1965, apresentou-se nas principais casas noturnas do eixo Rio-São Paulo (Chico’s Bar, Vogue, Flag etc.) e gravou o disco Bossa Três em forma (Forma). No ano seguinte, lançou o disco Bossa Três (Odeon) e fez temporadas de espetáculos acompanhando Maysa e Elis Regina, até a formação do Gemini 5, com o qual lançou, ainda em 1966, o disco Gemini 5 (Odeon).
Em 1967 fez apresentações internacionais com o novo conjunto e lançou o disco Gemini 5 no México (Odeon). Participou em 1968 da gravação do disco Elis Regina (Philips) e, em seguida, gravou seu primeiro disco solo: O som psicodélico de Luis Carlos Vinhas (CBS). No ano seguinte, outra participação especial, agora com Maria Bethânia, no disco Maria Bethânia (Odeon).
Em 1970 lançou o disco Luís Carlos Vinhas no Flag (Odeon) e, em seguida, o compacto Chovendo na roseira (Tapecar). Só voltou a gravar em 1977 com o disco Luis Carlos Vinhas (Odeon). Dois anos depois, fez uma participação especial no disco Wilson Simonal (RCA).
Em 1982 lançou pela Polygram o disco Baila com Vinhas. Quatro anos depois, lançou pela Som Livre O piano mágico de Luis Carlos Vinhas. Voltou a gravar pela Som Livre em 1989: Piano maravilhoso.
Em 1994 lançou os CDs Vinhas e bossa nova (CID) e Forma — A grande música brasileira. No ano seguinte, lançou o CD Bossa nova - História, som e imagem e a reedição em CD do disco de 1966, Gemini 5.
Em 1996 participou do CD Um piano na Mangueira (CID) e da coletânea Tempo de bossa nova, lançada pela revista Caras.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Nana Caymmi

Nana Caymmi

Nana Caymmi (Dinair Tostes Caymmi), cantora, nasceu no Rio de Janeiro – RJ em 29/04/1941. Em 1960, registrou sua primeira atuação em estúdio, participando da faixa Acalanto (Dorival Caymmi), no LP de seu pai, que compôs a canção em sua homenagem, quando a cantora era ainda criança.

Lançou, também, seu primeiro disco solo, um 78 rpm, contendo as músicas Adeus (Dorival Caymmi) e Nossos beijos (Hianto de Almeida e Macedo Norte). No dia 26 de abril desse mesmo ano, assinou contrato com a TV Tupi, apresentando-se no programa Sucessos Musicais, produzido por Fernando Confalonieri. Em seguida, passou a apresentar, acompanhada pelo irmão Dori, o programa A Canção de Nana, produzido por Eduardo Sidney.

Em 1961, casou-se com o médico Gilberto José Aponte Paoli e mudou-se para a Venezuela. Nesse país, nasceram suas filhas Stella Teresa, em 1962, e Denise Maria, em 1963. Gravou, nesse ano, seu primeiro LP, Nana, com arranjos de Oscar Castro-Neves.

Em 1964, participou do disco Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori e Danilo, ao lado do pai e dos irmãos. No ano seguinte, separou-se do marido e voltou grávida para o Brasil, com suas filhas pequenas. Em 1966, nasceu seu filho, João Gilberto. Nesse mesmo ano, venceu o I Festival Internacional da Canção (TV Globo), interpretando a canção Saveiros (Dori Caymmi e Nelson Motta).

Apresentou-se no programa Ensaio Geral (TV Excelsior), ao lado de artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tuca, Toquinho e Maria Bethânia, entre outros. Ainda nesse ano, assinou contrato com a TV Record, de São Paulo, e casou-se com o cantor e compositor Gilberto Gil, com quem compôs Bom dia, canção apresentada pelos autores no III Festival de Música Brasileira (TV Record), em 1967. No ano seguinte, terminou seu contrato com a TV Record. Estreou, no Rio de Janeiro, o show Barroco e separou-se de Gilberto Gil.

Em 1969, foi citada por Carlos Drummond de Andrade no poema A festa (Recapitulação), publicado na edição do dia 23 de fevereiro do jornal “Correio da Manhã". Em 1970, fez uma temporada de shows com Dori Caymmi em Punta del Este, Uruguai. Participou do espetáculo "Mustang Cor de Sangue", com Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e o conjunto Apolo 3, realizado no Teatro Castro Alves (Salvador) e no Teatro de Bolso (RJ).

No ano seguinte, cantou Morena do mar (Dorival Caymmi), na II Bienal do Samba (TV Record). Voltou a Punta del Este, para novas temporadas, em 1971 e em 1972, nesse último ano ao lado de Dori Caymmi, no Café del Puerto. Em 1973, apresentou-se com sucesso em Buenos Aires. No ano seguinte, realizou um show, com o conjunto argentino Camerata, no Camerata Café Concert, em Punta Del Este. Lançou na Argentina, pela gravadora Trova, ainda em 1974, o LP Nana Caymmi, que vendeu 20 mil cópias. O disco, divulgado Rádio Jornal do Brasil por Simon Khoury, chamou a atenção das gravadoras brasileiras.

No ano seguinte, acompanhada pela Camerata, foi recebida pela mídia como Grande Show Woman, em sua temporada anual na Argentina. Após um jejum de oito anos no mercado fonográfico brasileiro, lançou, em 18 de junho de 1975, na Sala Corpo e Som, do Museu de Arte Moderna (RJ), o LP Nana Caymmi (CID). O disco alcançou o 77º lugar no Hit Parade Carioca, uma semana após o lançamento. Fez, ainda, uma temporada, no mês de julho, na boate Igrejinha (SP), sendo citada por Tárik de Souza, no Jornal do Brasil, como a "Nina Simone brasileira" e provocando a admiração de Caetano Veloso, que considerou sua interpretação de Medo de amar (Vinícius de Moraes) uma das mais expressivas da música brasileira.

No dia 22 de outubro de 1976, foi contemplada com o Troféu Villa-Lobos de Melhor Cantora do Ano, oferecido pela Associação Brasileira de Produtores de Discos. Participou da trilha sonora de Maria Maria, espetáculo do Balé Corpo, com músicas de Milton Nascimento e Fernando Brant e coreografia de Oscar Ajaz. Apresentou-se, ao lado de Ivan Lins, no Teatro João Caetano (RJ), pelo projeto Seis e Meia. Ainda em 1976, lançou o LP Renascer, com show no Teatro Opinião. A canção Beijo partido (Toninho Horta), na voz da cantora, foi incluída na trilha sonora da novela Pecado Capital da TV Globo.

Em 1977, gravou novo LP, pela RCA-Victor. O disco contou com a participação de Dorival Caymmi na faixa Milagre, canção inédita do compositor, e teve show de lançamento no Teatro Ipanema (RJ). Ainda nesse ano, a gravadora CID lançou no mercado brasileiro o disco Nana Caymmi, gravado na Argentina em 1974, com o título Atrás da porta. Inaugurou, ao lado de Ivan Lins, o Projeto Pixinguinha (Funarte).

Em 1978, apresentou-se com Dori Caymmi pelo Projeto Pixinguinha. O show, dirigido por Arthur Laranjeiras, estreou no Teatro Dulcina (RJ) e prosseguiu em Vitória, Salvador, Maceió e Recife. Ainda nesse ano, lançou, pela Odeon, o LP Nana Caymmi, contendo a faixa Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), incluída na trilha sonora da novela Sinal de Alerta (TV Globo).

Em 1979, apresentou-se, com Edu Lobo e o conjunto Boca Livre, no Teatro do Hotel Nacional e no Canecão, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, casou-se com o cantor e compositor Claudio Nucci. Em 1980, comandou Nana Caymmi e seus amigos muito especiais, série de shows apresentados às segundas-feiras, no Teatro Villa-Lobos, com a participação de Isaurinha Garcia, Rosinha de Valença, Cláudio Nucci, Zezé Mota, Zé Luiz, Fátima Guedes, Sueli Costa, Jards Macalé e Claudio Cartier, entre outros. Fez temporada no Chico’s Bar, anexo do Castelo da Lagoa (RJ) e realizou espetáculo de lançamento do disco Mudança dos ventos (Odeon), viajando em turnê de shows pelo país. Participou, ao lado do Boca Livre, do Projeto Pixinguinha.

Em 1981, Canção da manhã feliz (Haroldo Barbosa e Luiz Reis), na voz da cantora, foi incluída na trilha sonora da novela Brilhante (TV Globo). Seu espetáculo, na Sala Funarte, foi apontado pelo Jornal do Brasil como um dos dez melhores do ano.

Em 1982, apresentou-se em Algarve (Portugal). Realizou uma participação na novela Champagne (TV Globo), representando a si mesma e cantando Doce presença (Ivan Lins e Victor Martins), ao lado do pianista Edson Frederico. A canção foi incluída na trilha sonora da novela. No ano seguinte, gravou, com César Camargo Mariano, o LP Voz e suor (Odeon). Apresentou-se, ao lado do pianista, no 150 Night Club (SP), para lançamento do disco.

Em 1984, separou-se de Claudio Nucci. Participou do Festival de Nice (França), com Dorival Caymmi e Gilberto Gil, entre outros. No ano seguinte, sua gravação de Flor da Bahia (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) foi incluída na trilha sonora de da minissérie Tenda dos Milagres (TV Globo), baseada no romance homônimo de Jorge Amado.

No final de 1986, em comemoração ao centenário de nascimento de Heitor Villa-Lobos, iniciou uma série de shows pelo país, que teve continuidade no ano seguinte, interpretando obras do compositor, ao lado de Wagner Tiso e do grupo Uakti.

Em 1987, fez temporada de shows em Madri, Espanha. Lançou o disco Nana, contando com a participação de seu filho, João Gilberto, na faixa "A lua e eu" (Cassiano e Paulo Zdanowski). No dia 3 de outubro desse mesmo ano, nasceu sua primeira neta, Marina, filha de Denise e Carlos Henrique de Meneses Silva.

Em 1988, fez show de lançamento do disco Nana, no L’Onoràbile Società (SP) e no People Jazz (RJ), seguindo em turnê pelo país. Em 1989, participou da coletânea Há sempre um nome de mulher", LP duplo produzido por Ricardo Cravo Albin para a campanha do aleitamento materno, do Banco do Brasil, cantando as músicas Dora e Rosa Morena, ambas de Dorival Caymmi. Nesse mesmo ano, ao lado de Wagner Tiso, excursionou por várias cidades da Espanha e participou do Festival Internacional de Jazz de Montreaux, Suíça. A apresentação foi gravada ao vivo, gerando o LP Só louco, lançado, no mesmo ano, pela EMI-Odeon. No dia 16 de dezembro, seu filho, João Gilberto, sofreu, no Rio de Janeiro, um grave acidente de motocicleta. A cantora passou o ano de 1990 dedicando-se exclusivamente ao filho acidentado.

Em 1991, voltou ao cenário artístico, participando, ao lado do irmão Danilo, de espetáculo realizado no Rio Show Festival (RJ), que reuniu Dorival Caymmi e Tom Jobim. Participou, com Dorival e Danilo Caymmi, do XXV Festival Internacional de Jazz de Montreux. O show foi gravado ao vivo e gerou o disco Família Caymmi em Montreux, lançado no Brasil, no ano seguinte, pela PolyGram.

Em 1992, participou, no Rio Centro (RJ), da segunda edição do Rio Show Festival, ao lado de Dorival Caymmi, Danilo Caymmi e Fagner. Lançou, pela Sony Music, o disco O melhor da música brasileira, apresentando-se em temporada de shows na casa noturna Jazzmania (RJ). No dia 24 de abril desse mesmo ano, nasceu Carolina, sua segunda neta, filha de Denise e Carlos Henrique de Meneses Silva. Participou do "SP Festival", realizado no Anhembi (SP), ao lado de Dorival Caymmi, Danilo Caymmi e Gilberto Gil.

Em 1993, viajou a Portugal, para temporada de shows em Lisboa e no Porto, ao lado de Dorival e Danilo Caymmi. Gravou o disco Bolero (EMI), apresentando-se em longa temporada de shows no People Jazz (RJ) e seguindo em turnê pelo país. Esteve, também, em Nova York, onde se apresentou no Blue Note, em show que contou com a participação de Danilo Caymmi.

Em 1994, lançou o CD A noite do meu bem - As canções de Dolores Duran (EMI), que contou com a participação de sua filha Denise Caymmi na faixa Castigo. Fez show de lançamento do disco no Canecão, em seu primeiro espetáculo solo nessa casa, seguindo em turnê pelo país.

Em 1996, apresentou-se no Teatro Castro Alves (Salvador), ao lado de Daniela Mercury, do pai Dorival e dos irmãos Dori e Danilo, em dois espetáculos comemorativos dos 50 anos das empresas Odebrecht. Lançou, nesse mesmo ano, o disco Alma serena (EMI), no Canecão (RJ) e no Palace (SP), seguindo em turnê pelo país. Viajou, em seguida, para os Estados Unidos, onde se apresentou em Los Angeles e Nova York, ao lado de Dori Caymmi.

Em 1997, gravou, no Teatro Rival (RJ), seu primeiro disco solo ao vivo, No coração do Rio (EMI), seguindo em turnê pelo país. Em 1998, lançou o CD Resposta ao tempo (EMI), contendo a canção homônima (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc), escolhida como tema musical de abertura da minissérie Hilda Furacão (TV Globo). A música obteve bastante destaque, tendo sido muito executada nas rádios, nesse ano. Apresentou-se, novamente, no Canecão, em show de lançamento do disco, viajando, em seguida, em turnê pelo país.

Em 1999, foi contemplada com o primeiro Disco de Ouro de sua carreira, pelas cem mil cópias vendidas do CD Resposta ao Tempo (EMI), seguindo-se o convite da TV Globo para cantar Suave Veneno (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc), canção escolhida como tema da novela homônima. Lançou a coletânea Nana Caymmi - Os maiores sucessos de novela (EMI). Participou, ainda, do songbook de Chico Buarque (Lumiar Discos), interpretando a faixa Olhos nos olhos.

Em 2000, comemorando 40 anos de carreira em disco, lançou o CD Sangre de mi alma (EMI), cantando em espanhol uma seleção de boleros, como Acércate más (Osvaldo Farrés) e Solamente una vez (Agustín Lara), entre outros, com arranjos de Dori Caymmi e Cristóvão Bastos.

Em 2001, gravou o CD Desejo, produzido por José Milton, com a participação de Zeca Pagodinho, em dueto com a cantora em Vou ver Juliana (Dorival Caymmi), Ivan Lins, ao piano na faixa Só prazer (Ivan Lins e Celso Viáfora) e sua sobrinha Alice, filha de Danilo Caymmi, em dueto com a tia na música Seus olhos, de autoria da irmã, Juliana Caymmi. Realizou show de lançamento do disco no Canecão (RJ), apresentando, além do repertório do CD, sucessos de sua carreira, como Saudade de amar, da trilha sonora da novela Porto dos Milagres (TV Globo) e Resposta ao tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc).

Em 2002, lançou o CD O mar e o tempo, contendo exclusivamente obras de Dorival Caymmi, como Saudade da Bahia e O bem do mar, entre outras, além da inédita Desde ontem. O disco contou com a participação de seus irmãos Dori e Danilo, além de sua mãe, Stella, das netas e das sobrinhas.

Em 2003, foi lançado o songbook O melhor de Nana Caymmi (Editora Irmãos Vitale), produzido por Luciano Alves, contendo letras, cifras e partituras do repertório da cantora, além de um perfil biográfico assinado por sua filha, Stela Caymmi.

Em 2004, em comemoração ao 90º aniversário do pai, lançou, com os irmãos Dori e Danilo, o CD Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo, contendo exclusivamente canções de Dorival Caymmi. Os arranjos do disco foram assinados por Dori Caymmi. Em 2005, lançou, ao lado de Nana Caymmi, Danilo Caymmi, Paulo Jobim e Daniel Jobim, o CD Falando de amor, sobre a obra de Tom Jobim Os músicos Jorge Hélder (baixo) e Paulinho Braga (bateria) participaram das gravações.

Fonte: Adaptado da Wikipédia, a enciclopédia livre.

Sílvio Brito

Sílvio Brito

Sílvio Brito (Sílvio Ferreira de Brito), cantor e compositor, nasceu em Alfenas MG em 10/2/1949. Começou sua carreira aos seis anos de idade cantando na rádio Clube de Varginha. Ainda na adolescência passou a compor músicas gravadas por cantores como Ronnie Von, Antonio Marcos e Vanusa.

Integrou em meados da década de 1960 o grupo Os Apaches, com influencias dos Beatles e do rock psicodélico. Com Os Apaches gravou um LP, O décimo primeiro mandamento, pela etiqueta Bemol.

Em 1974 ganhou o troféu Buzina do Chacrinha de cantor revelação e no ano seguinte já era conhecido em todo o Brasil. Em 1973 assumiu carreira solo, imitando Raul Seixas, e fazendo sucesso com gravações como Tá todo mundo louco (1973), Espelho mágico (1975), Por um beijo seu (1977) e Tubo maluco (1979).

Com tendência mais sertaneja a partir de 1979, regravou a toada Rio de lágrimas, sucesso da dupla Lourenço e Lourival, e lançou o LP Rocaipira (RGE, 1992).

Algumas músicas:

Careca, sem dente e pelado, Casinha, Espelho mágico, Farofa, Pare o mundo que eu quero descer, Salvem a terra, Tá todo mundo louco, Terra dos meus sonhos.

Fontes: Wikipédia e Dicionário da Música Brasileira - Art Editora.

Ary Toledo

Ary Toledo (Ari Christoni de Toledo), cantor, compositor e teatrólogo, nasceu em Martinópolis SP em 22/8/1937. Interessou-se por música desde os 12 anos, quando ganhou urna gaita da mãe. Aprendeu violão com o professor Jamil Neder, em Ourinhos MG, e em 1962 compôs sua primeira música, Modinha de ser.
Gravou, em 1965, em disco RGE Fermata, Tiradentes, uma de suas composições de maior sucesso Participou de vários programas musicais da TV Record, de São Paulo SP, entre 1965 e 1967, época em que se projetou cantando Pau-de-arara (Vinícius de Moraes e Carlos Lyra), também conhecida como Comedor de gilete, música da peça Pobre menina rica.
Destacou-se também interpretando, na mesma época, composições de sua autoria, como Descobrimento do Brasil e Os ovos que a galinha pôs, com Chico de Assis, um de seus principais parceiros. Lançou em 1966, pela RGE, o LP Ary Toledo no fino da bossa, incluindo as músicas de seu repertório.
Ator e autor de seus espetáculos teatrais ficou quatro anos em cartaz com o show A criação do mundo segundo Ary Toledo (em parceria com Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal), que estreou no Teatro de Arena, de São Paulo, em 1966. Atuou durante outros quatro anos em O comportamento sexual do homem, da mulher e do etc.
Em 1974, estreou no Teatro de Arena, de São Paulo, Tamanduá come formiga, elefante leva fama, de sua autoria e de Chico de Assis. De 1986 a 1991 escreveu, produziu, dirigiu e interpretou o show Ary Toledo com a corda toda, no Teatro Zácaro, em São Paulo. Fábrica de riso, espetáculo lítero-musical de sua autoria, foi mostrado no Japão, em 1993, e nos EUA, em 1995.
Algumas músicas:
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

A história da Bossa Nova - Parte 3

Sylvia Koscina, João Gilberto, Tom Jobim e Mylene Demongeot
Foto: Sylvia Koscina, João Gilberto, Tom Jobim e Mylene Demongeot

Nas boates Cave e Oásis, em São Paulo, foi lançada, com grande sucesso, a cantora e compositora Maysa Monjardim. A Praça Roosevelt, hoje urbanizada com estacionamentos subterrâneos, túneis, supermercado e outras construções, era então um espaço asfaltado, onde durante o dia estacionava um mar de automóveis, à exceção daqueles reservados à feira livre, ou dos fins de semana, quando lá aconteciam simultaneamente vários jogos de futebol do tipo “pelada”.
Neste terreno atrás da igreja da Consolação funcionava uma espécie de praia dos paulistas em pleno centro da cidade. À noite, o pessoal a atravessava, com saudosas condições de segurança, para se deslocar da Baiúca, onde tocavam, por exemplo, os conjuntos de Pachá, Moacyr Peixoto, Luiz Loy ou do vibrafonista Garoto, até o outro lado da praça, onde funcionou o Delval de Caco Velho, o primeiro Stardust, onde Alan e Hugo tiveram como crooner, por exemplo, Jane Moraes, e como tecladistas Hermeto Paschoal ou Eli Arcoverde.
Neste mesmo “outro lado da praça”, fizeram sucesso o Bon Soir, onde pontificava Walter Santos, ou o Farney’s, que depois virou Djalma, que depois se tornou Zum-Zum e que também entrou na onda dos shows de bolso. Também já faziam a noite paulista Agostinho dos Santos, Maysa e Juca Chaves, que mais tarde participariam dos primeiros espetáculos do gênero realizados na cidade, como o denominado “Festival Nacional da Bossa Nova”, promovido pelo então colunista social Ricardo Amaral, em abril de 1960, no Teatro Record.
Como no Rio, entre as gravações mais curtidas por certo tipo de público que viria a se encantar com a nova Bossa Nova estavam a versão cantada por Chet Baker, de My Funny Valentine, e Cry Me a River, com Julie London acompanhada pelo guitarrista Barney Kessel. Na imprensa e nas rádios, a repercussão dos primeiros discos de Bossa Nova, particularmente o de João, foi evidentemente de perplexidade, entusiasmo, e em alguns casos até de indignação No meio dessas polêmicas, pode-se discutir precedências ou premonições, mas a verdade é que tiveram imediata e entusiástica repercussão em colunas como as de Armando Aflalo ou Adones Oliveira, assim como em programas de disc-jóqueis como Fausto Canova. Henrique Lobo, Fausto Macedo ou Walter Silva.
São desta época duas frases infelizes, não definitivamente esclarecidas ou superadas, mesmo decorridos 35 anos, e que são inevitavelmente lembradas por quem pretenda estender ao campo da Bossa Nova o espírito de rivalidade entre paulistas e cariocas. Uma delas, em sua versão mais suave, foi proferida logo após quebrarem o disco 78 rpm de João Gilberto, e teria a forma de uma pergunta: “Por que gravam cantores resfriados?”. Sua autoria permanece em dúvida, variando do próprio diretor de vendas da gravadora Odeon em São Paulo até o gerente comercial das Lojas Assunção, então a maior cadeia de eletrodomésticos e de discos do país.
A outra, de Vinícius de Moraes, chamava a cidade de “túmulo do samba”, gerando enormes reações a ponto de, em janeiro de 1965, o poetinha ter escrito quatro crônicas para o Diário Carioca, preocupado em esclarecer as circunstâncias nas quais teria sido pronunciada.
Segundo ele, o comentário fora endereçado a Johnny Alf, para fazer desaforo a um grupo de grã-finos que estavam bêbados, na boate Cave, e comentaram em voz alta que aquele “cara” desafinava e “não tocava coisa com coisa”. Curiosamente, foi nestes artigos, sob o título de “SP não é mais o túmulo do samba”, que pela primeira vez ele fez referência a certo futuro parceiro, “Chico (..) (filho de meu querido amigo o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda) cujos sambinhas são muito bons”.
Entre as respostas à ofensa do poeta, a de um grupo de artistas e jornalistas paulistas, ou lá radicados, foi promover “reuniões de bossa”, que aconteciam em residências como as do maestro Souza Lima, de Renato Mendes ou de Maricene Costa, sempre aos sábados à tarde. Faziam parte desta turma, entre outros, Theo de Barros, Alaíde Costa, Claudete Soares, César Mariano, Walter Wanderley, Yvette, Adones Oliveira, Alberto Helena Jr., Franco Paulino, Luiz Vergueiro, Solano Ribeiro e Moracy do Val. Alguns destes últimos, a partir de janeiro de 1963, passaram a produzir “noites de Bossa”, às segundas-feiras no Teatro de Arena, porque não dava mais para reunir em residências particulares todo o público interessado em participar desses encontros.
Mais tarde ainda, os mesmos produtores promoveram espetáculos musicais no Teatro Maria Della Costa, inclusive uma releitura de Orfeu do Carnaval, que havia vencido em 1954 o concurso de textos teatrais inéditos, por ocasião dos festejos do IV Centenário de São Paulo. O papel principal coube a Agostinho dos Santos.
Paralelamente aos shows, de palco e de arena, e também aos espetáculos em faculdades, que continuavam a mobilizar a geração mais jovem em torno da nova música brasileira, um outro grupo, liderado por Márcio Martins Moreira, mais tarde prestigiado publicitário nos Estados Unidos, se apresentava na rede de teatros de bairro mantida pela Prefeitura. Eram shows à luz de velas, que reuniam, entre outros, os compositores, cantores e violonistas Sérgio Augusto e Zelão, o pianista Nelson Ayres e a cantora Sonia.
Entre essa fase, de shows na escala da casa noturna, do auditório de universidade, dos teatros pequenos e médios, e a era dos grandes espetáculos no Teatro Paramount e na TV Record, merece citação especial O Fino da Bossa, que causou uma mudança de rumo na forma e talvez no conteúdo desses eventos. Este foi realizado em maio de 1964 e teve seu título utilizado posteriormente para um programa semanal de televisão, na Record, estrelado por Elis Regina.
O teatro, com capacidade da ordem de 1.800 espectadores sentados, ficava na contramão da convencionada região musical da cidade, isto é, estava localizado do lado contrário ao da Praça Roosevelt, no fim da Brigadeiro Luiz Antonio, próximo à Praça da Sé e ao Largo de São Francisco, Era proposta de seus organizadores — um grupo do Centro Acadêmico XI de Agosto, liderado por Horácio Berlinck Neto e Eduardo Muylaert e reunindo universitários de diferentes formações — realizá-lo em padrões o mais que possível profissionais. Todos os artistas seriam formalmente contratados, pois os organizadores eram todos estudantes de Direito — canções inéditas seriam incluídas, com arranjos especiais, e o evento seria registrado em disco LP a ser comercializado imediatamente após sua realização. A direção musical coube a Oscar Castro Neves, também autor de Onde Está Você?, em parceria com Luvercy Fiorini, que foi interpretada por Alaíde Costa, acompanhada por um noneto, constituindo-se na faixa principal do referido disco.
As circunstâncias, inclusive o elenco, o local e a expectativa criada levaram o grande teatro a ficar superlotado, com o público excedente chegando a quebrar as portas na tentativa de assistir o espetáculo. Participaram ainda o recém-criado Zimbo Trio, Rosinha de Valença, Nara Leão, Jorge (então) Ben, os trios de Sérgio Mendes e de Edson Machado, Wanda, Ana Lúcia (estas duas, também acompanhadas pelo noneto de Oscar), Paulinho Nogueira, Claudete Soares, Marcos Valle, Os Cariocas, Geraldo Cunha, Luiz Henrique e Walter Wanderley, tendo o disco encabeçado por alguns meses as listas de vendagem no País.
A partir dali, aquele espaço foi assumido como novo “templo da Bossa em São Paulo”, mudada a escala desses eventos, alteradas as relações entre artistas e promotores, e aberto novo mercado — o dos shows ao vivo — para o grande mercado fonográfico. Toda uma série de espetáculos seguiu-se ao Fino, comandados por Walter Silva, o Pica-pau, responsável, entre outros, pelo Samba Novo, Mens Sana in Corpore Samba, Bo-65, O Remédio é Bossa, Historinha, Primeira Denti-Samba e outros, alguns registrados em disco com grande sucesso, como o Dois na Bossa, que manteve por algum tempo o recorde de vendagem de disco nacional.
Ampliava-se o sucesso da música popular do Brasil. Porém essa nova escala tenderia a levar ao afastamento de alguns traços e características fundamentais do movimento da Bossa Nova, entre os quais o intimismo.
Como no Rio, as novidades da Bossa Nova eram freqüentemente geradas e difundidas em casas e apartamentos de universitários, gente da classe média, como Horácio Berlinck Neto e João Evangelista Leão, nos Jardins; Caetano Zama, que morava na região da Paulista, ou Ana Lúcia e Miúcha Buarque de Holanda, no Pacaembu. A mansão dos Berlinck, na Rua Itália, contava com todos os itens necessários a reuniões deste tipo — piano, bateria, contrabaixo, violão. “Minha mãe, tia Helena, era um barato. Recebia todo mundo, dava casa, comida e roupa lavada. Passei momentos inesquecíveis ali”, recorda Horácio. Primo da cantora Wanda Sá, volta e meia ele ia para o Rio, onde também participou de várias reuniões nas casas de Nara Leão e de Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli.
Por volta de 1960, Horácio foi trabalhar como programador musical na Rádio Eldorado, “Ali, a gente tinha um gosto musical muito apurado”, afirma ele, que mais tarde coordenou o espetáculo O Fino da Bossa, no Teatro Paramount. Foi um dos produtores de Primeira Audição, no teatro do Colégio Rio Branco e na TV Record, onde também participou da produção do programa de Elizeth Cardoso (Bossaudade) e do de Elis Regina, Zimbo Trio e Jair Rodrigues, com o mesmo título daquele show do Paramount.
Quando Horácio deixou a emissora, o programa passou a chamar-se simplesmente O Fino, onde foi diretor cultural numa época em que lá era freqüente a presença de artistas como Dick Farney, Isaurinha Garcia, Vinícius, Paulinho Nogueira, Johnny Alf, Geraldo Vandré ou Ana Lúcia. Foi durante cinco anos produtor do talk show de Silveira Sampaio, o mais importante da época, programa que “batia papo com gente desde cangaceiro até astronauta, de travesti a presidente, e com muitas personalidades da música.
Naquele tempo, a turma da Bossa era uma fonte inesgotável...”. A casa de Evangelista, na Rua Cuba, assim como seu sítio em Jundiaí eram pontos de encontro de longas e animadas reuniões musicais, principalmente durante a época dos musicais da Record, dos quais participou, assim como Horácio Berlinck, da produção, ao lado da Equipe A (Tuta Carvalho, Nilton Travesso, Raul Duarte e Manoel Carlos) e de Zuza Homem de Mello, que aliás era contrabaixista de jazz durante os anos de início da Bossa Nova. Pesquisas de repertório, ensaios, montagem de números especiais ou garimpagem de novas músicas e músicos, tudo era pretexto para que as casas de Leão e de Horácio estivessem sempre cheias de gente, como os músicos do Zimbo, Elis, Cyro Monteiro, Alaíde, Fernando Faro, Arley Pereira, Chico, Toquinho, os baianos e os militantes da política universitária.
Já a mansão da família Zammataro, na Alameda Joaquim Eugênio de Lima, perto da Avenida Paulista, era base paro encontros do pessoal da música e também do teatro paulista. Seu filho mais velho, Caetano Zama, estudava na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e também na Escola de Arte Dramática (EAD), de Alfredo Mesquita, além de compor, cantar e tocar violão, tendo constituído com Agostinho dos Santos e Ana Lúcia o trio de paulistas que participou do recital do Carnegie Hall. Sempre havia disponível um quarto de hóspedes para albergar o pessoal bossa-novista que vinha do Rio, como Sergio Ricardo ou Oscar Castro Neves.
João Gilberto era hóspede freqüente, mas preferia dormir na sala. Foi lá que João mostrou, pela primeira vez em São Paulo, sua interpretação de Insensatez. São muito lembradas até hoje as reuniões de sábado à tarde e os reveillons dos Zama, onde conviviam Agostinho dos Santos, Maysa, Flavio Rangel, Gianfrancesco Guarnieri, Alaíde Costa e Maria Lima, Aracy Balabanian, Juca de Oliveira, Vandré, Roberto Freire e muitos outros.
Psicanalista e professor da EAD, Freire foi o primeiro parceiro de Caetano Zama (Mulher Passarinho, de 1958) e, anos depois, mentor do grupo teatral da PUC que montou Morte e Vida Severina, ganhando o Festival de Nancy de Teatro Universitário (1966).
Ana Lúcia gravou seu primeiro disco nos primórdios do movimento. Com composições de Tom Jobim e arranjos de Guerra peixe. Lembra que seu primeiro contato com a Bossa Nova foi através do disco Amor de Gente Moça, de Sylvinha Telles. Encantada, resolveu tentar a carreira participando dos programas da TV Tupi Almoço com as Estrelas e Clube dos Artistas, onde foi vista por Agostinho dos Santos, que a estimulou a continuar cantando. Seu apartamento na Rua Piauí, em Higienópolis, era outro ponto de encontro da turma.
Foi lá que aconteceu uma famosa história de João Gilberto, quando ele, irritado com o relógio de parede que cantava a toda hora, parou de tocar e só voltou ao violão depois que pararam o funcionamento do cuco.
Quanto à casa do professor Sérgio e de Maria Amélia Buarque de Holanda, na Rua Buri, perto do Estádio do Pacaembu, sempre foi local de encontro de intelectuais. Quando começou o movimento da Bossa Nova, Heloísa (Miúcha), sua filha mais velha, tocava violão e cantava, com repertório que ia desde Noel Rosa até Vinícius de Moraes e Paulo Vanzolini, estes últimos freqüentadores assíduos da casa. Os sucessos das músicas de Orfeu e de Canção do Amor Demais haviam aumentado consideravelmente o prestígio de Vinícius junto à turma de Miúcha, que já tinha o privilégio de conhecer de primeira mão as composições de Vanzolini, professor da USP diretor do Museu de Zoologia, grande contador de casos e autor de excelentes sambas, na linha mais tradicional.
Em 1960, Miúcha participou, cantando e acompanhando-se ao violão um espetáculo do Grupo Teatral Politécnico homenagem a Manuel Bandeira amigo da família Buarque, que havia quarenta anos não voltava a São Paulo, onde estudara na Poli e fora sócio fundador do Centro Acadêmico. Por Causa disso, foi entrevistada na televisão, provocando forte reação de dona Maria Amélia, que preferia ter os talentos dos filhos limitados às reuniões da Rua Buri.
Em outubro de 1964 aconteceu a gravação, no colégio Rio Branco, do piloto do programa Primeira Audição, apresentado por Elis Regina e Luiz Chaves, produzido para a TV Record por Horácio Berlinck Neto, João Evangelista Leão e Eduardo Muylaert. Deste espetáculo participaram vários jovens artistas pouco conhecidos, como Chico Buarque, Yvette, Toquinho, Tuca, Nelson Ayres, Taiguara, Luz Roberto Oliveira, Adylson Godoy, Zelão, Hamilson Godoy e outros.
A partir do show original, foram editados os três programas de uma série que durou seis meses e serviu de embrião para o programo O Fino da Bossa, com Elis Regina, Zimbo Trio e Jair Rodrigues. O surgimento dessa nova fornada de músicos foi saudado por alguns críticos, entre eles Moracy do Val e Thomás Souto Correa, como a “nova Bossa Nova”, e por outros como uma primeira geração pós-bossa, por ela muito influenciada, porém sem fortes compromissos com a mesma.
A cantora Yvette foi talvez quem permaneceu mais fiel à Bossa Nova, embora não se tornasse suficientemente conhecida fora de São Paulo. Revelada nos shows universitários, participou de vários espetáculos do Paramount e das reuniões do grupo de Theo, César e Maricene. Trabalhou com Edu Lobo, tanto em noitadas no Teatro Arena como em seu programa Edu Bem Acompanhado, na TV Tupi, produzido por Goulart de Andrade. Foi a primeira intérprete de Preciso Aprender a Ser Só, com arranjo de Oscar Castro Neves, num show do Arena, assim como de várias outras composições de Marcos e Paulo César Valle.
Era presença permanente, ainda, em dois programas de TV também na Tupi, importantes não só por seu padrão musical mas também pela pesquisa de novos formatos para o musical de televisão: Móbile e Poder Jovem, ambos de responsabilidade de Fernando Faro. Aliás, a essa altura não faltavam programas de televisão nos qual a Bossa Nova predominasse como o Gessy às Nove e Meia, de Eduardo Moreira, o Musical Três Leões, de Walter Arruda e Cecil Thiré, que chegou a apresentar várias vezes o próprio João Gilberto como figura central, ou o Julio Rosemberg Show, no qual a parte “um-banquinho-e-um-violão”, cabia ao compositor e violonista Sérgio Augusto.
Maricene Costa cantava na noite, acompanhada pelos conjuntos mais modernos da época; participou dos circuitos e espetáculos universitários e mais tarde foi para os Estados Unidos, sob contrato com uma gravadora especializada em jazz. Foi parceira de Vera Brasil, com quem chegou a ganhar o segundo prêmio num festival da TV Excelsior. Sua casa foi uma das bases do grupo de Bossa Nova de São Paulo que se rebelou após a célebre frase de Vinícius.
Não dá para falar da Bossa Nova paulista sem citar três cantoras cariocas que marcaram o período com participações importantes, em boates, teatros e discos: Alaíde Costa, Claudete Soares e Marisa Gata Mansa. Claudete cantava no início de carreira no Rio, no Hotel Plaza, dividindo as atenções com Sylvinha Telles. Quando esta se casou com Candinho, deixou Claudete sozinha no Plaza. “Ali foi o berço da Bossa Nova”, garante ela, que participou de vários shows no Rio, inclusive na Faculdade de Arquitetura. “Ficava enlouquecida, porque adorava esse tipo de música, mas tinha que voltar para o estúdio da Rádio Nacional para gravar baião. Eu dizia para mim mesma : não é isso o que eu quero.”
Quando Agostinho dos Santos a viu cantando no Plaza, convenceu-a a ajudá-lo a “levar esse movimento para São Paulo”. Começou na Baiúca, mas logo se indispôs com o proprietário por motivos de repertório e passou a cantar no Cambridge, de onde diz ter as melhores lembranças, “porque lá o pessoal ia por causa da música, os freqüentadores eram os próprios artistas”, segundo ela. Mas foi também musa do João Sebastião Bar, onde era considerada a pocket singer dos pocket shows.
Foi no bar do Cambridge que formaram um quarteto vocal — ela, Alaíde, Pedrinho Mattar e o contra baixista Matias Matos — a que denominaram Os Bossais, de início por brincadeira, e mais tarde resultando num disco que se tornou uma raridade para os colecionadores.
Já Alaíde Costa, que havia sido revelação do ano no Rio, em 1957, e cooptada por João Gilberto para incluir três músicas de Bossa Nova em seu primeiro LP em 1959, conquistou o público paulista a partir do show Festival Nacional da Bossa Nova, um ano depois, no Teatro Record. Em 1962 casou-se com o radialista Mário Lima e foi morar de vez em São Paulo, onde teve grandes sucessos em boates, festivais e teatros, com alguns pontos altos como o show O Fino da Bossa, do Paramount, e o recital Alaíde Alaúde, no Teatro Municipal, sob a direção do maestro Diogo Pacheco. Como compositora Alaíde fez músicas e letras, inclusive em parceria, entre outros, com Tom Jobim e Vinícius.
Quanto a Marisa, ou Gata Mansa, de origem no jazz, no Rio de Janeiro, foi crooner do Copacabana Palace, intérprete destacada do repertório de Dolores Duran, e estrela de shows do Beco das Garrafas, Tendo casado com o pianista e arranjador César Camargo Mariano, mudou-se para São Paulo, onde viveu durante sete anos. No período teve algumas experiências teatrais, entre as quais um musical com Lennie Dale e um espetáculo no Arena, com Caetano Veloso e Taiguara.
Impõe-se pelo menos a citação de outras personalidades femininas que tiveram passagem marcante naquela época, em São Paulo, como a violonista e compositora Vera Brasil, autora de O Menino Desce o Morro, gravação de sucesso de Geraldo Cunha, e Tema do Boneco de Palha, e que participou de espetáculos com Claudete, Pedrinho Mattar e conjunto no João Sebastião, ou a cantora Márcia, que alcançava grande êxito no Estão Voltando as Flores, inclusive apresentando interpretações novas de músicas de Johnny Alf.
No segundo semestre de 1959, ano do primeiro LP de João Gilberto, Tom Jobim apresentava, na TV Paulista, o programa O Bom Tom, no qual apresentava os principais nomes do movimento carioca e abria oportunidades para autores e intérpretes da Paulicéia. Na mesma época, boates como Michel, Oásis e Baiúca anunciavam novas programações baseadas no repertório e no estilo da Bossa Nova. Na Cave, por exemplo, eram anunciados, além de um cantor de rock, Ana Lúcia, Johnny Alf e trio e a participação especial de Booker Pittman, que compunha à época, com Hector Costita e Enrico Simonetti, um trio de ouro de músicos estrangeiros radicados em São Paulo e que tiveram participação no movimento.
Em setembro de 1959, Vinícius de Moraes teve um encontro com os alunos da Politécnica, superlotando o maior dos auditórios da faculdade e resultando numa crônica que tem sido incluída em suas antologias. Mais até do que poesia, mulher e política, temas da divulgação do evento entre os universitários, foi o novo movimento musical que motivou maior número de perguntas e debates.
O modo diferente de João cantar e de tocar violão, o futuro da Bossa Nova sendo perene ou um mero modismo, a possibilidade de Norma Bengell ser enquadrada como cantora ou não, tudo sinalizava por uma grande valorização do tema pela juventude de então. O evento foi encerrado com o poeta tirando do bolso o manuscrito da letra de uma música nova que ele ainda não decorara e que cantou, acompanhado por Caetano Zama, em dueto com Mariana Pôrto de Aragão, uma “cantorinha promissora”, para quem ele previa uma bela carreira na Bossa Nova. A canção era Samba em Prelúdio, e Mariana abandonou pouco depois a carreira, para casar-se com seu empresário e dono da boate Cave, Jordão de Magalhães.
São Paulo sempre se caracterizou pelo alto nível de seus instrumentistas, e o movimento da Bossa Nova trouxe no mínimo o resgate do violão e a revalorização do trio piano/baixo/bateria. Para não retroceder demais no tempo, pelo menos desde os áureos tempos do Teatro Brasileiro de Comédia e da Cinematográfica Vera Cruz, criados por Franco Zampari, São Paulo passou a ter um local onde se praticava permanentemente o jazz e a música nacional por ele influenciada.
Essa base era o Nick Bar, de Joe Kantor, vizinho ao TBC e ao qual havia acesso direto através da sala de espera do teatro. Ponto de encontro de artistas, intelectuais e socialites, ali se apresentaram os principais pianistas da década de 50 — basta citar, por exemplo, Dick Farney, que inclusive gravou, em homenagem a ele, uma depois célebre canção, de autoria de Garoto e J, Vasconcelos.
Vários foram os instrumentistas que se destacaram durante o período de apogeu da Bossa Nova - digamos, de 1959 a 1964 -, a começar por Johnny Alf, que passara a viver em São Paulo quatro anos antes e que trabalhou em pelo menos uma dezena de casas noturnas, entre as quais Cave, Baiúca, Michel e Stardust. Em 1961, quando voltou para o Rio de Janeiro, acabara de gravar seu primeiro disco, que incluía Rapaz de Bem, Ilusão à Toa e O que É Amar.
Naquela época despontava no Rio de Janeiro uma das mais importantes figuras da música brasileira: o violonista Baden Powell. Antes mesmo de o movimento da Bossa Nova existir, Baden já era um conceituadíssimo e exímio instrumentista. Seu violão transcende a qualquer movimento musical, mas o advento da Bossa Nova trouxe a Baden Powell a possibilidade de compor e tocar com e para músicos de alta qualidade.
Foi um dos grandes parceiros de Vinícius de Moraes, com quem escreveu clássicos como Samba da Bênção, Pra que Chorar, Formosa, Berimbau, Canto de Ossanha e Apelo. Entre inúmeras outras canções, o grande violonista também compôs Samba Triste, com Nilo Queiroz, Lapinha e Aviso aos Navegantes, com Paulo César Pinheiro, Cidade Vazia e Feitinha pro Poeta com Lula Freire.
Na gravação de um disco do compositor francês Michel Legrand, uma certa faixa do disco Sérénades du XXême Síècle, a difícil peça He Antonio não era tocada pelos violonistas espanhóis presentes à gravação, como Legrand queria. “Chamem Baden Powell”, sugeriu um músico da orquestra. Assim foi feito e, uma vez no estúdio, Baden, de primeira, executou o tema exatamente como havia sido escrito, superando mesmo as expectativas do genial Michel Legrand. Depois de alguns anos morando em Paris, Baden voltou para o Brasil. Retornando para mais uma temporada na Europa, escolheu viver uns tempos na Alemanha, Curiosamente, na cidade de Baden-Baden!
Em l964 dois instrumentistas de grande prestígio e vivência na música popular, particularmente em São Paulo, o baixista Luiz Chaves e o baterista Rubens Barsotti, o Rubinho, uniram-se ao pianista Hamilton Godoy para constituir o Zimbo Trio, que chegou a completar trinta anos com a mesma formação, dedicando-se a um repertório coerente, mantendo fidelidade a um padrão musical que mostrou possuir público permanente e chegando inclusive a criar uma escola (o Clam) para a formação musical e aperfeiçoamento de instrumentistas.
Luiz Chaves, nascido e criado em Belém do Pará, acredita que, antes do surgimento da Bossa Nova, já existia um movimento nacional que buscava explorar o bom gosto dentro da música brasileira. Filho de um violinista e uma pianista, Luiz lembra que sua mãe, apesar da formação erudita, mandava buscar álbuns de Fats Waller nos Estados Unidos. “Por minha casa passaram os maiores nomes da música do Rio de Janeiro”, conta. Ele cita, entre outros, Orlando Silva, Os Anjos do Inferno e Lúcio Alves. Enquanto as estrelas ensaiavam dentro de sua casa, as pessoas se acotovelavam do lado de fora para ouvir. “E nós íamos aprendendo...”, confessa.
O compositor Custódio Mesquita foi, durante algum tempo, diretor artístico da PRC5, Radioclube do Pará. Aos treze anos, Luiz Chaves fundou com o irmão Sebastião, conhecido também como o contrabaixista Sabá - outro nome indispensável em qualquer relação de músicos importantes na história da Bossa Nova - o conjunto Gaviões do Samba, inspirado nos Cariocas. Mais tarde, na época do auge da Bossa Nova, Sabá formou com o percussionista Toninho Pinheiro e com o pianista Cido Bianchi o Jongo Trio, de grande êxito inclusive pelos arranjos vocais, posteriormente sucedido pelo Som Três, então com César Mariano ao piano.
O baterista do Zimbo, Rubinho, também cresceu ouvindo música norte-americana, fez parte de vários conjuntos e tocou em inúmeras casas noturnas. Participava intensamente de gravações, na época em que surgiu a Bossa Nova — e ele cita, como exemplo, os discos de Maysa e de Agostinho dos Santos —, graças às quais sustentava o curso de Direito na Universidade Mackenzie. Segundo Rubinho, a Bossa Nova surgiu no Rio, “mas quando chegou a São Paulo, todo mundo estava pronto para participar e participou. Foi tudo muito natural e espontâneo”.
Quanto ao pianista do trio, Hamilton, músico de formação preponderantemente erudita, conta que ele e seus irmãos, nascidos e criados em Bauru, no interior de São Paulo, ouviam muita música em casa, já que seu pai adorava orquestras americanas, como as de Glenn Milier e Tommy Dorsey. Dos artistas brasileiros preferiam como exemplo Carlos Galhardo, Orlando Silva, Dick Farney e Agostinho dos Santos, O programa da Rádio Eldorado Um Piano ao Cair da Tarde era algo obrigatório para eles. Seus irmãos Adylson e Hamilson vêm desenvolvendo suas carreiras profissionais, inclusive como pianistas, confirmando e deixando claras as influências reveladas por Hamilton.
No que se refere à Bossa Nova propriamente dita. o pianista do Zimbo comenta que “a gente estava preparado para ouvir um tipo de música e, quando o disco do João Gilberto apareceu lá em casa, causou reações diferentes. Meu pai se irritava com aquilo, enquanto a gente adorava”.
Paulinho Nogueira foi um dos primeiros a despontar. Em São Paulo desde 1952, pensava ser desenhista publicitário, até que descobriu seu verdadeiro caminho e foi trabalhar como violonista na boate ltapoã. Segundo diz, “a gente estava sempre tocando nas casas noturnas, e só curtia mesmo a música quando acabava a função; aí é que a coisa esquentava...”. Professor de violão, não apenas se apresentava nos espetáculos do circuito universitário, como fazia “escada” para os artistas mais jovens, quando necessário.
Theo de Barros começou tocando jazz na boate de jovem-guarda Lancaster, na Rua Augusta, alternando com um conjunto de rock. Tocou em várias casas noturnas, como Cambridge, Baiúca, João Sebastião e Ela, Cravo e Canela, Participou do grupo, das reuniões e das noites de Bossa Nova, e dirigiu Historinha, já na fase do Teatro Paramount, tendo preparado, para este espetáculo, arranjos que incluíam trompetes e violinos para o conjunto de Erlon Chaves.
O cantor, violonista e compositor Sérgio Augusto estudava Química Industrial e trabalhava na noite para ajudar a custear os estudos. Freqüentador da turma carioca da qual nasceu a Bossa Nova, seu estilo de tocar violão chamava a atenção, assim como suas primeiras composições, dentre as quais Barquinho Diferente, gravada por Claudete Soares, Milton Banana Trio, Zimbo e outros. Fez parte do conjunto de Pedrinho Mattar quando este se apresentava com Claudete, no Ela Cravo e Canela e no João Sebastião Bar, tendo inclusive ali substituído Vera Brasil, Sérgio Augusto participava do circuito universitário e se apresentava no Le Barbare e no Estão Voltando as Flores.
Segundo seu depoimento, “inesquecíveis eram os fins de noite na boate Bon Soir, quando todos os músicos deixavam seu trabalho e iam ouvir o violão e as canções de Walter Santos, ídolo de todos nós naquela época, sob cujo samba o sol nascia lá para os lados da antiga Praça Roosevelt”.
Walter Santos, também baiano e também de Juazeiro, fez parte do back vocal do disco pioneiro de Elizeth Cardoso, ao lado de Tom Jobim e de João Gilberto, e foi presença do maior destaque nos primeiros anos da Bossa Nova em São Paulo, assim como outro conterrâneo, Geraldo Cunha, igualmente violonista, compositor e cantor, que participou do show O Fino da Bossa, e chamava público em inúmeras casas noturnas entre as quais o Le Barbare, o Jogral e, anos depois, o III Whisky.
Entre tantos outros, Edgard Gianullo sempre teve pendores para os arranjos vocais, tendo liderado vários conjuntos com clara influência do jazz e da Bossa Nova, o mais recente dos quais o Quatro por Quatro. Participou da orquestra de Simonetti e acompanhou inúmeros cantores da moderna música popular brasileira. Apaixonado por música desde os catorze anos, em particular dos Anjos do Inferno, a maior diversão de sua turma era fazer novos arranjos para músicas antigas. “Aparecia até a Carmen, de Bizet, em ritmo de Bossa Nova”, comenta, citando inclusive que Vinícius e Tom costumavam freqüentar as reuniões desse grupo em São Paulo.
Mesmo polarizada pela velha Praça Roosevelt, a Bossa Nova paulista a partir de 1961 passou a ter fora dela, não longe, porém em duas direções opostas, as casas noturnas mais marcantes em matéria de música popular brasileira, e de Bossa Nova em particular.
Para os lados da Vila Buarque, próximo ao Mackenzie e à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a FAU: uma série de bares como o Le Barbare, o Manolo, o Ela, Cravo e Canela e particularmente o João Sebastião Bar, na Major Sertório, dirigido por Paulo Cotrim. Na Avenida Nove de Julho, não longe do Anhangabaú, o bar do Hotel Claridge, que depois virou Cambridge para aproveitar o maior número de letras quando teve de mudar o nome.
Cotrim havia sido diretor artístico da boate Cave, numa época, entre 1959 e 1960, com música de qualidade e shows de bolso que tiveram grande sucesso. Era ligado aos movimentos de juventude católica e dono de uma pensão de estudantes na Rua Sabará, que era ponto de encontro de jovens lideranças intelectuais e artísticas. Anos mais tarde transformou-se em prestigiado cronista de assuntos gastronômicos. Sua proposta era a criação de um novo espaço, especialmente projetado para ser uma casa de música, de shows e de reunião, objetivo que alcançou, tornando-a no mínimo o local mais badalado da cidade.
Foram suas atrações, entre muitas outras, Claudete Soares acompanhada por Pedrinho Mattar, com Sérgio Augusto (violão), Azeitona (baixo) e Hamilton (bateria); o Sambalanço Trio, do pianista César Camargo Mariano, Kleiber (baixo) e Airto Moreira (bateria) Pery Ribeiro; o Sexteto Brasileiro de Bossa Nova, liderado por Theo de Barros; e o Quarteto de Eli Arcoverde. Foi lá, por exemplo, a primeira apresentação pública de Gilberto Gil, então funcionário em São Paulo da Cia. Gessy-Lever.
Entre os locais eleitos pela Bossa Nova, o João Sebastião Bar era, segundo a cantora Ana Lúcia, “uma Ipanema para os paulistas. Lá, na mesma noite, podia-se encontrar Lennie Date, Tônia Carrero, Tarcísio Meira e Glória Menezes ou a Condessa Pereira Carneiro”. Segundo ela, a maior atração da casa eram as “canjas”, além dos dois ou três conjuntos contratados e uns quatro cantores. “O Jô Soares, por exemplo, sempre aparecia para tocar bongô ..“.
Já a história do Cambridge relataria principalmente as diferenças na composição dos conjuntos que ali se apresentavam, num clima mais calmo, para um público mais voltado à qualidade musical. Entre outros, deve-se lembrar o conjunto de Manfredo Fest, com Matias (baixo) e Heitor (bateria); o de Pedrinho Mattar, com Azeitona (baixo), Toninho Pinheiro (bateria) e Papudinho (pistom) acompanhando Claudete, e o da própria, acompanhada por Walter Wanderley, no quarteto vocal que formaram com a participação de Alaíde Costa.
Logo a Bossa Nova começou a ser exportada. A Odeon lançou João Gilberto nos Estados Unidos através de uma montagem de gravações intitulada BraziI’s Brilliant. Em 1961, houve no Teatro Municipal do Rio um espetáculo de jazz com os músicos americanos Coleman Hawkins, Curfis Fuiler, Zoot Sims e Herbie Mann, entre outros. Fascinados com as possibilidades infinitas de improviso da Bossa Nova, eles voltaram para os Estados Unidos com algumas músicas para serem gravadas.
O trompetista Alberto Castilho lembra que, em 1961, foi um dos músicos convidados a tocar no primeiro festival de jazz da América Latina, em Punta del Este, no Uruguai. O conjunto era formado por ele, Juarez Araújo (sax tenor), Paulinho Ferreira (sax barítono), Bill Horne (trompete) Pedro Paulo (contrabaixo), Sérgio Mendes (piano), Tião Neto (contrabaixo) e Oswaldinho Oliveira Castro (bateria). Participavam Argentina, Brasil, Uruguai e Chile. “Até o conjunto argentino já tocava Bossa Nova”, lembra Alberto, contando também que durante as apresentações do festival só se tocava jazz, mas nas jam sessions que aconteciam depois, nos bares de Punta del Este, a Bossa Nova era o grande acontecimento.
Fonte: Revista Caras - Edição Especial de Julho de 1996.